quinta-feira, 17 de maio de 2012

UM POEMA DE JORGE LUIS BORGES


           
História da Noite

Ao longo de gerações
os homens erigiram a noite.
No princípio era cegueira e sonho
e espinhos que laceram o pé desnudo
e temor dos lobos.
Nunca saberemos quem forjou a palavra
para o intervalo de sombra
que divide os dois crepúsculos;
nunca saberemos em que século foi cifra
do espaço de estrelas.
Outros engendraram o mito.
A fizeram mãe das Parcas tranquilas
que tecem o destino
e lhe sacrificaram ovelhas negras
e o galo que profetiza seu fim.
Doze casas lhe deram os caldeus;
infinitos mundos, o Pórtico.
Hexâmetros latinos a modelaram
e o terror de Pascal.
Luis de Leon nela viu a pátria
de sua alma estremecida.
Agora a sentimos inesgotável
como um vinho antigo
e ninguém pode contemplá-la sem vertigem
e o tempo a carregou de eternidade.

E pensar que não existiria
sem esses tênues instrumentos, os olhos.

Tradução: Claudio Daniel

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