quinta-feira, 23 de junho de 2011

ARAMES, RETALHOS

I

esqueletos do nunca
onde o áspero da palavra,
brutais de dezembro.
porque esta não é a minha língua:
retorcidos de mistério,
caranguejo onagro.
onde se desdobra a pedra, onde se
desdobra o nojo desse nunca,
que se anuncia indesejoso:
são palavras em seu verde, em seu asco;
são vértebras de escárnio,
entulhos-de-orelhas à procura da mulher-dos-gatos.
porque nada faz sentido, eu sei,
neste reverso em que me falas,
primitiva, reverberante,
com a nudez que me cala os arames, os retalhos;
com a nudez de um estuque de plantas,
ruidosa, em expansão — e só me resta confessar
os fumos de aranha, inconcluso,
quando indagas sobre o meu labirinto.

2011

(Poema inédito de Claudio Daniel)

8 comentários:

  1. Anônimo25.6.11

    Ótimo, Claudio, gostei!

    Beijo, bom fim de semana.

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  2. Lara, obrigado pela visita e comentário!

    Beso,

    Claudio

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  3. Anônimo25.6.11

    Que bom ler-te ainda inédito, moço que dá anatomia aos versos e retorce nossos sentidos.

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  4. Katy, que bom ser lido por você! Esse é um esboço avançado, porém esboço... gosto de lembrar, de vez em quando, que eu ainda sou poeta, rsss... besos,

    Cld.

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  5. Celso Vegro2.7.11

    Prezado Prof. Claudio Daniel
    Por acaso a palavra dobrar anda a frequentar meus versos também. Quem sabe ainda hoje os lerá.

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  6. Não só gostei... O poema tem algo de autodevoração. É grave nos sentidos que vasculha por de dentro. Isso é maior.
    BJs!

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  7. Anônimo20.7.11

    Poeta, gosto muito deste texto.
    É pontiagudo, como outros teus. Às vezes tento encontrar alguma saída na tua poesia; ao final de cada verso, porém, só portas fechadas (dou de cara, naturalmente - e porque o ritmo, frenético, engole o tempo que eu teria para conseguir parar -, e termino de ler com o rosto todo desfigurado...).
    A Susanna fala em autodevoração; exatamente; há textos em que o nojo está no vomitar. O que vejo aqui tem a ver com se comer, alimentar-se de si, como se houvesse mais fome que corpo.
    Gosto muito tbm do câncer metafísico que se cria aqui e ali - "onde se desdobra a pedra, onde se / desdobra o nojo desse nunca", "porque nada faz sentido, eu sei, / neste reverso em que me falas".
    Alguém chupa os olhos da tua poesia para dentro. Alguém no estômago do texto, nos pulmões, sei eu lá... "Neste reverso em que me falas".
    Beijo com admiração (e preciso do Fera Bifronte, onde consigo?),

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  8. Lu, você pode encomendar o Fera Bifronte na Livraria Cultura, via site da Lumme Editor, ou eu te envio um exemplar pelo correio. Gostei muito de tua leitura de minha poesia!

    Beso,

    Cld.

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