segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

UM POEMA DE LUIZA NETO JORGE

A CABEÇA EM AMBULÂNCIA

Há feridas cíclicas há violentos vôos
dentro de câmaras de ar curvas
feridas que se pensam de noite
e rebentam pela manhã

ou que de noite se abrem
e pela amanhã são pensadas
com todos os pensamentos
que os órgãos são hábeis
em inventar como pensos

ligaduras capacetes
sacramentos
com que se prende a cabeça
quando ela se nos afasta

quando ela nos pressente
em síncope ou desnudamento
ou num erro mais espaços
ou numa letra mais muda
ou na sala de tortura
na sala escura, de infância


(Poema da autora portuguesa Luiza Neto Jorge, do livro 19 recantos e outros poemas, organizado por Jorge Fernandes da Silveira e Maurício Matos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008.)

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