Claudio Daniel
Após
o golpe de estado de 2016, que derrubou a presidenta legítima do Brasil, Dilma
Rousseff, eleita pelo Partido dos Trabalhadores (PT), foram aprovadas uma série
de medidas no Congresso Nacional que retiram direitos do povo brasileiro, como
a reforma trabalhista, que permite aos empresários contratar trabalhadores sem pagar
o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), férias, licença-maternidade e
outros benefícios garantidos na Constituição, e a reforma previdenciária, que
aumenta o tempo de contribuição de homens e mulheres para a aposentadoria,
desprezando o fato de que, sobretudo no campo, muitos trabalhadores morrem
antes de completarem 60 anos de idade. Os governos reacionários de Michel Temer
e Jair Bolsonaro (este último, de extrema-direita, eleito a partir de fake news divulgadas nas redes sociais, financiadas
por grandes empresários brasileiros) aprovaram diversos outros projetos contra
os interesses dos trabalhadores, como o fim do imposto sindical, para
enfraquecer as centrais sindicais, a redução das investigações da Polícia
Federal sobre casos de trabalho escravo no campo, a redução do valor do salário
mínimo, o incentivo à terceirização e precarização dos postos de trabalho, diminuindo
o número de empregados registrados com carteira assinada, as ações violentas da
Polícia Militar contra assentamentos de trabalhadores rurais sem terras, o
congelamento dos investimentos públicos em saúde e educação por 25 anos, o fim
de programas como o Ciência sem Fronteiras, que permitia a jovens brasileiros cursarem
o mestrado e doutorado no exterior custeados pelo estado, entre muitas outras
ações. Todo esse programa antioperário e antipopular é coerente com um modelo
econômico neoliberal e entreguista, que alia o fim dos direitos trabalhistas e
sociais às privatizações de bancos públicos e outras empresas estatais e à
entrega de nossas riquezas naturais, como os campos de pré-sal, minas de
nióbio e áreas da Amazônia ao grande capital internacional, sobretudo o
norte-americano. Todos esses interesses – dos grandes empresários urbanos, latifundiários,
banqueiros e investidores internacionais – estavam por trás do golpe de estado
contra a presidenta Dilma Rousseff, o maior ataque contra os direitos dos
trabalhadores e o regime democrático em toda a história do Brasil e atualizam o
conceito de luta de classes,
introduzido na ciência política por Marx e Engels.
No
Manifesto Comunista, os fundadores do
socialismo científico escrevem:.
“A
história de toda sociedade até nossos dias é a história da luta de classes. Homem
livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre e oficial, em suma, opressores
e oprimidos sempre estiveram em constante oposição; empenhados numa luta sem
trégua, ora velada, ora aberta, luta que a cada etapa conduziu a uma transformação
revolucionária de toda a sociedade ou ao aniquilamento das duas classes em
conflito. (...) A sociedade burguesa moderna, oriunda do esfacelamento da
sociedade feudal, não suprimiu a oposição de classes. Limitou-se a substituir
as antigas classes por novas classes, por novas condições de opressão, por
novas formas de luta. O que distingue nossa época – a época da burguesia – é ter
simplificado a oposição de classes. Cada vez mais, a sociedade inteira
divide-se em dois grandes blocos inimigos, em duas grandes classes que se
enfrentam diretamente, a burguesia e o proletariado. (...) O desenvolvimento da
burguesia, isto é, do capital, corresponde, na mesma proporção, ao
desenvolvimento do proletariado, da classe dos operários modernos que só
sobrevivem à medida que encontram trabalho, e só encontram trabalho à medida que
seu trabalho aumenta o capital. Esses operários, compelidos a venderem-se a
retalho, são uma mercadoria como qualquer outro artigo do comércio e, portanto,
são igualmente sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as
flutuações do mercado. (...) Ora, o preço de uma mercadoria – e, portanto,
também do trabalho – é igual a seus custos de produção. Por conseguinte, à medida
que o trabalho se torna mais repugnante, o salário decresce. (...) O trabalho
industrial moderno, a submissão moderna ao capital, que é a mesma na Inglaterra
e na França, na América e na Alemanha – despojaram-no de todo caráter nacional.
As leis, a moral, a religião, são, para ele, meros preconceitos burgueses por
intermédio dos quais camuflam tantos outros interesses burgueses. (...) O
proletariado, a camada mais baixa da sociedade atual, não pode erguer-se,
recuperar-se, sem estilhaçar toda a superestrutura de estratos que constituem a
sociedade oficial. (...) A burguesia produz, acima de tudo, seus próprios
coveiros. Sua queda e a vitória do proletariado são igualmente inelutáveis.”
A
luta de classes não deixou de existir na era da “pós-modernidade”, da
globalização e da Indústria 4.0.
Pelo
contrário, nunca foi tão intensa como hoje, embora as formas de exploração da
classe trabalhadora sejam mais diversificadas do que na época de Marx, não
acontecendo apenas pela obtenção da mais-valia nos parques industriais, mas
também pela exploração do trabalho de “empreendedores”, “terceirizados” e
outros setores informais ligados à prestação de serviços que não trabalham em
fábricas, não produzem mercadorias, não integram a classe operária tal como
Marx compreendia esse conceito, muitos deles realizam o seu trabalho
isoladamente e não em grupo, como os motoboys
que entregam pizzas para a classe média, mas ainda assim estão sujeitos a
jornadas de trabalho extenuantes, em situação de insegurança e precariedade,
recebem baixas remunerações e contribuem para o enriquecimento de nossas elites,
cada vez mais desumanas.
Por
outro lado, os trabalhadores não deixaram de lutar contra as injustiças e em
defesa de uma nova ordem social, inclusive pela via da luta armada, como
acontece ainda agora nas guerras populares em curso na Colômbia, Índia,
Filipinas e, em menor grau, no Peru, Turquia e outros países, bem como nos movimentos
sociais que se desenvolvem na Venezuela, Bolívia, Argentina, Brasil e outras
nações latino-americanas, que defendem pautas como a luta contra o latifúndio e
pela reforma agrária, a nacionalização do petróleo e outras riquezas naturais,
a unidade latino-americana contra o imperialismo norte-americano, entre outros pontos
avançados.
A
luta de classes apenas atualizou-se, se vocês preferirem, podem chamá-la agora de
klassenkampf 4.0.
Nenhum comentário:
Postar um comentário