Claudio
Daniel
Um fantasma
ronda o mundo: o espectro da morte do comunismo, anunciada quase todos os dias pelos
meios de comunicação social, personalidades do meio acadêmico, artístico e
intelectual, políticos conservadores, celebridades do cinema, da moda, do
esporte e outros formadores de opinião. Esta nota fúnebre é anunciada com insistência,
sobretudo após a dissolução da União Soviética e do campo socialista na Europa
Oriental, há mais de três décadas. A insistência na veiculação do necrológio
nos faz pensar: por que é necessário repetir, sempre, sempre e sempre, a
suposta morte do comunismo? Haverá, talvez, dúvidas a esse respeito entre os
que repetem o eterno mantra? Ou eles temem que Marx ressuscite de seu túmulo em
Londres e volte a conclamar, agora nas redes sociais: “Trabalhadores de todos
os países, uni-vos!”?
O fato
é que o discurso conservador ganhou um forte aliado na chamada Quarta Revolução
Industrial, ou Indústria 4.0, que criou novos processos de produção em suas “fábricas
inteligentes”, que unem a automação e a robótica, que substituem o trabalho
humano por dispositivos mecânicos ou eletrônicos,
e a internet, que possibilita a comunicação e a cooperação entre diversos
setores produtivos em tempo real. Nesta nova etapa do capitalismo, fábricas
inteiras trabalham sem a presença de operários, o que eleva o número de
desempregados, ou “exército industrial de reserva”, nas palavras de Marx, os
custos para a produção de mercadorias são reduzidos e os lucros obtidos pelos
capitalistas são muito maiores. A economia globalizada substitui as economias
nacionais isoladas e o próprio capital acionário das grandes empresas é cada
vez mais transnacional, com a participação ostensiva do capital financeiro
internacional. Ou, como diriam Marx e Engels Manifesto Comunista,
publicado em 1848: “Pela exploração do mercado mundial, a burguesia tornou
cosmopolita a produção e o consumo de todos os países. (...) A autossuficiência
e o isolamento regional e nacional de outrora deram lugar a um intercâmbio
generalizado, a uma interdependência geral entre as nações”, conceito que é
mais conhecido nos dias atuais como globalização.
Ao mesmo tempo, o neoliberalismo contemporâneo vem
realizando, tanto nos países capitalistas desenvolvidos, ou imperialistas,
quanto nas semicolônias que fornecem commodities
– fontes de energia, como o carvão, o gás e o petróleo, matérias-primas,
produtos agrícolas ou pecuários – uma “reengenharia” nas relações de trabalho,
revogando conquistas históricas dos trabalhadores, como os direitos
trabalhistas e previdenciários, além da privatização ou precarização dos serviços de educação e saúde e dos cortes orçamentários nos programas sociais. No cenário de uma grande cidade como Nova York,
Londres ou São Paulo, nos deparamos com uma multidão de trabalhadores terceirizados ou informais, como entregadores de pizza ou motoristas de Uber (chamados,
acintosamente, de “empreendedores”), que nada recebem além de parca remuneração, sempre defasada pelo ciclo inflacionário. Sem dúvida, esta é uma
transformação profunda no capitalismo, porém, de modo algum está em contradição
com a teoria marxista.
Conforme escrevem Marx e Engels no Manifesto Comunista: “A
burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de
produção; portanto, as relações de produção; e assim o conjunto das relações
sociais. Ao contrário, a manutenção inalterada do antigo modo de produção foi a
condição precípua de existência de todas as classes industriais do passado. O revolucionamento
permanente da produção, o abalo contínuo de todas as categorias sociais, a
insegurança e a agitação sempiternas distinguem a era burguesa de todas as
precedentes. (...) Tudo o que é sólido se desmancha no ar”. Basta recordarmos,
brevemente, as três revoluções industriais anteriores: a primeira, realizada no
século XVIII, com a introdução de máquinas a vapor como fonte de energia, o que
beneficiou sobretudo a indústria têxtil; a segunda, realizada entre 1870 e
1914, com o uso da energia elétrica, a produção
em massa nas grandes unidades fabris, como na indústria automobilística, popularizada
por Henry Ford, e a introdução do telégrafo e das ferrovias; e a terceira, chamada
de “revolução digital”, realizada entre 1950 e 1970, quando aconteceu a mudança
de sistemas analógicos e mecânicos para os sistemas digitais. O desenvolvimento
da automação, dos computadores e a criação da internet abriram o caminho da
terceira para a quarta revolução industrial, na qual os sistemas ciberfísicos
combinam o trabalho humano remoto com as tarefas executadas por robôs, sendo a
comunicação realizada em tempo real entre todos os agentes participantes da
produção. Todo esse desenvolvimento, que nos parece notável, porém, já estava
previsto por Marx e Engels, no Manifesto
de 1848: “A grande indústria criou o mercado mundial, preparado pela descoberta
da América. O mercado mundial expandiu prodigiosamente o comércio, a navegação
e as comunicações. (...) Portanto, vemos que a burguesia moderna é produto de
um longo processo de desenvolvimento, de uma série de profundas transformações
no modo de produção e nos meios de comunicação”.
O que vemos hoje no mundo, portanto, não é a negação do
marxismo, mas a comprovação de suas leis gerais, como expomos brevemente aqui e
seguiremos analisando, nos próximos artigos,.
Perfeito as suas palavras querido amigo. Marx e Engels já anunciavam esta realidade na qual estamos.
ResponderExcluirMuito bom o artigo!
ResponderExcluirValeu!
Perfeito, Cláudio. As bases da história e os pilares do materialismo!
ResponderExcluirCláudio, você é Comunista??
ResponderExcluirAté o mais fundo de meu ser. :)
ExcluirMarx está mais vivo do que nunca e não se pode esconder a força de suas previsões porque elas são concretas, ao contrário do blá-blá-bĺá pós-moderna (sic) que é só discurso.
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