Victor Sosa, poeta uruguaio faleceu no dia 06 de agosto, aos 64 anos de idade, na Cidade do México, onde residia desde 1983. A imprensa noticiou que ele foi vítima de infarto, mas pessoas próximas ao poeta afirmam que ele foi preso e faleceu após poucos dias na prisão, em um caso estranho e ainda não esclarecido. Victor Sosa recebeu o Premio Internacional de Poesía Jaime Sabines em 2012 e era considerado um dos melhores poetas contemporâneos de língua espanhola.
Claudio Daniel
Victor Sosa nasceu em Montevidéu, Uruguai, em 1956 e destacou-se como poeta, ensaísta, tradutor e artista plástico. Lecionou na Universidade Ibero-americana (México), realizou mais de quinze exposições individuais de pintura e colaborou em jornais e revistas literárias. Sua obra poética inclui livros como Sunyata (1992), Gerundio (1996), Decir es Abisínia (2001), Mansión Mabuse (2004), Nagasakipanema (2011), La saga del Sordo (2006), entre outros títulos. Já seus ensaios críticos e teóricos incluem La flecha y el bumerang (1997), El Oriente en la poética de Octavio Paz (2000), El impulso, inflexiones sobre la creación (2001) e Derivas del arte contemporáneo en México (2003). No Brasil, foi publicada uma antologia bilíngue com alguns de seus poemas, intitulada Sunyata e outros poemas (2006), com traduções feitas por mim, em parceria com Luís Roberto Guedes. Victor Sosa participou de antologias de poesia latino-americana, entre elas Jardim de camaleões – A poesia neobarroca na América Latina (2004), publicada pela editora Iluminuras. Participou de eventos internacionais de poesia em São Paulo, como o Festival Tordesilhas, em 2007 e foi bolsista residente do Programa de Incentivo à Pesquisa e Tradução da Obra de Haroldo de Campos. Victor Sosa também traduziu diversos poetas brasileiros para o espanhol, entre eles João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade e Paulo Leminsky. Transcrevemos abaixo alguns depoimentos de poetas brasileiros e latino-americanos que conviveram e dialogaram com o autor uruguaio.
"A perda de um poeta tão intenso como Victor Sosa é a perda de um mundo particular, em desenvolvimento, único, paralelo, com reverberações no grande mundo da linguagem, tecida e entretecida por muitos, em vários idiomas - mundo, aliás, muito mais interessante do que essa parca, pobre e absurda realidade a que estamos condenados. Se vai o poeta, mas fica a linguagem que ele erigiu, enquanto houve tempo. Que sua poesia densa, caudalosa, visionária, seja mais traduzida e lida entre nós, brasileiros."
– Ademir Assunção
“Conheci Víctor pessoalmente em Sampa, num encontro de literatura em 2009. Mas já conhecia o seu trabalho desde que o seu poema Los animales furiosos me apareceu, em 2004, em tradução belíssima do Claudio Daniel. Publicamos imediatamente na revista Oroboro 1, que estávamos iniciando e lembro de ficarmos animados com a coincidência de o poema ter nos chegado às mãos. O poema é admirável, pois Víctor lança mão de sinais gráficos de pontuação (dois pontos, vírgula, ponto e vírgula) para intensificar as presas de animais em fúria. Uma vírgula é também a presa de uma víbora. Depois, generosamente, ele aceitou escrever a apresentação do meu livro Amphibia, que saiu em Portugal, pela Cosmorama, em 2009. Ainda nos conhecíamos à distância, ambos acompanhando o trabalho do outro. Foi por causa destas primeiras trocas que, no encontro em Sampa, quis conhecê-lo pessoalmente e fui assistir a sua participação numa mesa para depois sairmos para jantar. Logo fiquei encantado com sua presença, com sua fala serena, concentrada, consistente e toda construída com gentileza e humildade. Posso dizer, Víctor era foda, muito foda. E ontem, infelizmente, aos 64 anos, ele se foi. Quando soube, a sensação de vazio foi imensa. Fiquei horas em uma pausa dolorosa. Estava de máscara e tive que tirá-la rapidamente para respirar, ganhar fôlego. Hoje acordei pensando nele e quero crer que está conversando uma boa conversa em algum lugar. Víctor foi um grande amigo. Guardarei para sempre em meu coração essa amizade tão linda e produtiva. Evoé, Víctor!
-- Ricardo Corona
“Em princípio, a cada vinte anos, temos uma nova geração. A cada geração, numa dada língua, temos cerca de vinte vozes com uma obra poética única e com características únicas e próprias que distinguem o seu autor e marcam a sua presença como patrimônio, o cânone, o seu tempo, a sua linguagem e a sua país de origem. Neste momento em espanhol e para sua geração e países, neste caso Uruguai e México, Víctor Sosa, o poeta e o crítico estão, a meu ver, entre os escritores de sua geração que garantiram um lugar permanente.”
-- José Kozer (Cuba)
“VICTOR SOSA desenhou novos mapas BARROCOS (extraiu do fundo sombrio as dobras hipnagógicas do APEIRON, os relâmpagos da feitiçaria poética, as almas altivas da animalidade, as enciclopédias caológicas): é um SIGNO de ritmicidades expressionistas, é um atravessamento gerador de tempos crónicos. VICTOR é um MACARÉU afectivo: Victor é um MARACATU que perfura as rebentações de uma VISÃO fora das imagens: VICTOR não é um nome, é um acontecimento indiscernível, é um espírito que impulsiona existências góticas-cristalinas, é um espelhamento rítmico, é uma cartografia do instante da eternidade, é o inconsciente do corpo, é uma cor-da-estranheza que despontou desabaladamente do cubo de Husserl: VICTOR é uma língua do VAZIO que nos arremessa para o impensável e para a perplexidade: VICTOR é uma vidência ritornélica!”
-- Luís Serguilha (Portugal)
“O seu trabalho contundente e de qualidade inequívoca inclui as práticas simultâneas ou entrelaçadas do ensaio, da tradução e da pintura, todas as quais terão de ser editadas brevemente, para podermos apreciar, à luz das novas visitas, as múltiplas linhas de força que constituem a alma integral, mas perturbadora de seu encadeamento. Assim como no encerramento da intensa inconclusão de The Angry Animals, a canção da origem materna é oferecida, talvez tenha provocado a reconciliação do bardo consigo mesmo, agora, no nível tibetano do Bardo, em sua jornada pelos estados intermediários, vamos recitar a Victor os seus próprios versos no ouvido:
Vazio de paz
e não do abismo, cheio
vazio de paz.
Você verá que sim, você verá que
o que acontece aí você pode ver: fechar
agora seus olhos, fechem para dentro
os poros dos olhos e aperte suavemente
cada pálpebra e de repente abra-as com firmeza
como um púbis que abre a puberdade. E aberto
-- Reynaldo Jimenez (Argentina)
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