quinta-feira, 28 de julho de 2016

ANTICANÇÃO















Hora vermelha, de garras;
hora da gárgula;
hora do grito;
hora da gárgula;
hora do grito.


Hora vermelha, de garras;
percorre linhas 
das mãos, torso,
axilas, até a medula
espinhal; é gárgula.


Hora vermelha, de garras:
sua face rascante, 
de ranhuras;
a língua eritrina;
demente desmundo.


Hora vermelha, de garras:
limosa, ruminante,
esfrega escamas
nos poros da noite
para alucinar-te.


Hora vermelha, de garras:
lambe teu membro,
rugosa melusina,
buceta-escarcéus:
acúmulo de vermes.


Hora vermelha, de garras:
acaso se
entremostraria
no esplendor
de coágulos?


Hora vermelha, de garras:
ferruginosa,
em adensamento
de guinchos.
É gárgula.


Hora vermelha, de garras:
acaso esfiapasse,
seu disfórico vestido
até a final
metempsicose?


Hora vermelha, de garras:
hora da gárgula;
hora do grito;
hora da gárgula;
hora do grito.


Eu sou tua gárgula;
você, meu pesadelo.


Poema inédito de Claudio Daniel, 2016

2 comentários:

  1. As horas de pertencimento das garras só sabe que foi apanhado em pleno voo por ela. Lindo poema querido professor de poesia e vida.

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  2. Excelente, Claudio, li e gostei muito. Os quadros se sucedem mas também se imbricam, palavra-labirinto. Tua poesia é única.

    :)

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