terça-feira, 5 de maio de 2015

POEMAS DE BERTOLT BRECHT


















EPITÁFIO

Escapei aos tigres
Nutri os percevejos
Fui devorado
Pela mediocridade


REMAR, CONVERSA

Noite. Passam deslizando
dois barcos. Dentro
dois jovens. Torsos
nus. Lado a lado remando
conversam. Conversando
remam lado a lado.


HOLLYWOOD

Toda manhã, para ganhar meu pão
Vou ao mercado, onde se compram mentiras.
Cheio de esperança
alinho-me entre os vendedores.


MANHÃ MALIGNA

O álamo branco, famosa beldade local
hoje uma velha bruxa. O lago
um charco de águas de lavagem. Não agitar!
As fúcsias junto à boca-de-leão — baratas e fúteis.
Por quê?
À noite em sonho eu vira dedos que me apontavam
como a um leproso. Dedos rotos
dedos mortos.

Ignorantes! gritei
cheio de culpa.


A MÁSCARA DO MAL

Na minha parede, a máscara de madeira
de um demônio maligno, japonesa —
ouro e laca.
Compassivo, observo
as túmidas veias frontais, denunciando
o esforço de ser maligno.


SOBRE UM LEÃO CHINÊS DE RAIZ DE CHÁ

Os maus temem tuas garras.
Os bons alegram-se com teu garbo.
O mesmo
quero ouvir
de meus versos.

Traduções: Haroldo de Campos


AS MOÇAS SOB AS ÁRVORES DA ALDEIA

Escolhem os namorados.
A morte
Também.


É NOITE

Os casais
Deitam-se nos leitos. As mulheres
Parirão órfãos.


NA MANHÃ DO NOVO DIA

Na manhã do novo dia, ainda na aurora
Os abutres se levantarão em negras nuvens
Em costas distantes
Em voo silente
Em nome da ordem.


ALÉM DESSA ESTRELA

Além dessa estrela, pensei, nada existe
E ela está tão devastada
Ela somente é nosso abrigo, e
Olha o aspecto dele.


A FUMAÇA

A pequena casa entre árvores no lago.
Do telhado sobe fumaça
Sem ela
Quão tristes seriam
Casa, árvores e lago.

Traduções: Paulo César de Souza

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