terça-feira, 16 de agosto de 2011

UM POEMA DE KURT SCHWITTERS


ANA FLOR

Ó amada dos meus vinte e sete sentidos, eu
te amo! — tu, te, ti, contigo, eu te, tu me.
— nós?
Isto (de passagem) não vai bem aqui.
Quem és tu, mulher inumerável? Tu és
— és? — eras, andam dizendo, — deixa
que digam, nem sabem em que pé
está o campanário.
Chapéu nos pés, caminhas sobre as mãos.
Volante sobre as mãos.
Olá, pregas brancas serram tua roupa rubra,
rubroteamo Anaflor, em rubro te me amo! — Tu
teu te a ti, eu te, tu me. — Nós?
Isto (de passagem) lança-se à brasa fria.
Rubraflor , rubra Anaflor, que andam dizendo?
Adivinha:
1.) A doidiv’ana tem uma ave.
2.) Anaflor é rubra.
3.) E a ave? Quem sabe?
Azul é a cor dos teus cabelos louros.
Rubro é o arrulho de tua ave oliva.
Tu, criatura simples num vestido cotidiano, bem-amado
animal verde, eu te amo! — Tu te ti contigo, eu
a ti, tu a mim, — Nós?
Isto (de passagem) vai para o braseiro.
Anaflor! Ana, a-n-a, gotejo teu
nome.Teu nome em gotas, tenra gordura bovina.
Sabes Ana? Já o sabes?
De trás para frente podes ser lida, e tu,
a mais bela de todas, para trás
Ou para diante
serás: a-n-a.
Gordura bovina goteja ternura em meu dorso.
Anaflor, animal gotejante, eu te me amo!

Tradução: Haroldo de Campos

2 comentários:

  1. dentre tantos, infinitos, um dos poemas mais belos já escritos (na minha modesta opinião).

    não conhecia esta tradução, apenas a de Fabiana Macchi, que me causou imenso impacto quando o li pela primeira vez (talvez essa primeira impressão me faça preferir aquela à esta tradução).

    cheguei ao seu blog por acaso e gostei do que encontrei, parabéns, certamente voltarei!

    aproveito e deixo um convite para visitar o meu.

    grande abraço,
    bagadefente

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  2. nícollas17.8.11

    adoro esse poema e adorei vê-lo por aqui. abração!

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