segunda-feira, 8 de junho de 2009

UM POEMA DE MARCO VASQUES

“E o sonho bateu asas”
(Nietzsche in Além do bem e do mal)

os movimentos dos corpos incineram
sobre a cama as secreções e excrementos
buscados em um anúncio de jornal
onde todos os prazeres são oferecidos
ao lado de uma manchete de estupro
e tudo se mistura no jardim de esqueletos
poluídos

garças brancas têm asas decapitadas pela
tinta das toalhas em que nos secamos
quando senhoras emparedadas costuram
as fraldas dos nenéns com suas cãs
carcomidas

adiante uma flauta em forma de pênis
solta a semente no ouvido de uma cifra
e cria-se voz e movimento entre o acelerar
e o gás carbônico de um escapamento

e mais um estupro nasce com promessa de vingança
e ainda chamam o filho de rebento

não bastasse isso ainda cresce
sob a luz de um poste prostituído
mais uma face cega para o mundo

(Poema do livro Elegias Urbanas, ed. Bem-te-vi, 2005)

3 comentários:

  1. excelente! muito bom o poema...bela escolha! ;)
    amplexos

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  2. Sim, o Marco é um poeta raro, e pessoa rara também, gostei de conhecê-lo, e à sua poesia, em SP... abraço,

    CD

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  3. Conheçi o Marco recentemente e a pequena amostra que tive de seus poemas me deixaram muito bem impressionado.

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