MENINOS,
EU VI a montagem da peça “O percevejo”, de meu camarada Vladimir Maiakovski, no
Sesc Pompéia, com direção de Luiz Antônio Martinez Corrêa, música de Caetano
Veloso e, no elenco, Cacá Rosset, Maria Alice Vergueiro, Dedé Veloso. Foi no
início dos anos 1980. Havia teatro de vanguarda – Gerald Thomas, Asdrúbal Trouxe o Trombone, Teatro
do Ornitorrinco (Ubu rei, de Alfred Jarry, numa montagem belíssima), e música, muita música nova: Arrigo Barnabé e a banda Sabor de
Veneno, com uma mistura de atonalismo, ópera-rock e pastiche da imprensa
popular e das histórias em quadrinhos... Itamar 
 Assumpção e a Banda Isca de Políciaem Nova York , Claudio
Abramo em Londres, Mauro Santayana em Paris, Clovis Rossi (então decente) em Buenos Aires , Gerardo
Mello Mourão em Pequim, Osvaldo Peralva em Tóquio. O  Estadoem São Paulo 
–, havia a sensação de que conseguiríamos tomar os céus de assalto, repetindo a
Revolução Sandinista na Nicarágua. Kit militante básico: lenço palestino no
pescoço, camiseta com estampa de Che Guevara, estrelinha do PT no peito e
bandeira vermelha. Nossa insurreição, porém, durou pouco: a emenda Dante de
Oliveira, que instituía as eleições diretas, foi derrotada no Congresso
Nacional e começou um longo período de inverno: “voto útil” dos deputados e
senadores de oposição na candidatura de Tancredo e Sarney no Colégio Eleitoral,
para derrotar Paulo Maluf, “transição negociada” da ditadura militar para a
“Nova República”, novo surto de esperança em 1989, com a candidatura de Lula à
presidência da república, pela Frente Brasil Popular... derrota de Lula para
Fernando Collor de Mello, após intensa campanha difamatória desse candidato,
respaldado pela Rede Goebbels e toda a mídia golpista (já sem a máscara de
“democrática” e “progressista” de poucos anos atrás)... início dos Anos
Neoliberais, queda da União Soviética e do bloco socialista na Europa Oriental,
derrota da Revolução Sandinista, eleição de presidentes de direita no Brasil
(Fernando Henrique Cardoso), no Peru (Alberto Fujimori), na Argentina (Carlos
Menem) e em outros países da América Latina... longo inverno que começou a
findar a partir de 1998, com a vitória de Hugo Chávez na Venezuela, e depois,
em 2002, com a eleição de Lula no Brasil... novos tempos, novas conquistas, uma
situação histórica rara, estratégica, que pode nos levar a grandes
transformações – ou a graves retrocessos. Em tempo: não sou saudosista, mas a
música, o teatro e a poesia dos anos 1980 eram MUITO mais interessantes que as
de hoje.  
domingo, 6 de setembro de 2015
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