quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

UM POEMA DE ANDRÉIA CARVALHO


JUDAH
(S)

ouço teu passo- irmão
manso de sandálias
emplastradas

sondo teus olhos
dois campos pardos
concentrados

e não te escuto o nome
abatido
e não te ouço os cânticos
pelos dentes afiados

branca munição
teu sorriso cúspide
tudo que me cospe
tudo que me cala

não mais te coagulam pontes
no mar vermelho do sangue

teus frutos amordaçados
com a fome de um jardim
suspenso
lamentam a polpa
de tua febre

não te entendo o êxodo
fantástico
na fissura dos mapas

antes da promessa
era terra à vista
teu deserto mágico

antes da mesquita
era o filho do cosmos
era autêntico, o livro branco
de neve

tu te lanças sobre muralhas
inventadas
desenhos bombardeados

e mutilas em seis
o que te deram
em sete

hamurabi coração
dilacerado e cego
oro por ti

escarificado

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