sexta-feira, 14 de agosto de 2009

ANTOLOGIA ALEATÓRIA (IV)

TONEL DE UMA DANAIDE

A Gabriel Jaime Caro

Ocorre nessa arena brutal do sentimento: falaram-me de um anfíbio e achei este indício tônico, este assistir o fumo com três falanges mansas e linhas de balé quando assume um cigarro. Calado em seu tonel (cujo esquema é meu frontal) propende sem estrias à multiplicação, assim pese ao frontal correcionário de tudo quanto habite no pretérito. Por ele não é insólito que abruptamente invada, todo um cúmulo fluido que retifico diáfano ao prever sua dispersão.


BIANCA JAGGER DEPILANDO-SE ANTE WARHOL

O sorriso é um diagrama de excelente carnadura; se estabelece em claro-escuros de fotografia vulgar. Uma axila ao meridiano, um vazio sem mangues que se reproduziram depois de serem cortados. Com uma metade negra e na outra grude-gris a realidade quadrada para ti é desequilíbrio: desemboca em desembarques deprimidos de seu decote e o cabelo de sarçais mais a ascese da toalete. E nem o olho nem a lente calarão sua massa em crise confinando-a a sua insólita imobilidade.


PROSA DO QUE ESTÁ NA ESFERA

Um espelho é o artífice daquela ubiqüidade. E não é que é ganancioso reproduzir as algas e o movimento mudo: com um giro sustentado se delega escuramente e (entre as correntes frias) o translúcido e sua disseminação. Corrosivas as paredes, o que embalsa os montículos, reproduzindo em transe um testamento em amálgama. A cada salto sucessivo, em toda fuga da margem, rigores ambiciosos que fecundam em minhas chagas.


(Poemas de León Félix Batista traduzidos por Claudio Daniel no livro Prosa do que está na esfera. São Paulo: Olavobrás, 2003.)

2 comentários:

  1. CD, isso é simplesmente ótimo: "o cabelo de sarçais mais a ascese da toalete"... Não sei, me remete a um castelo penumbroso, a uma cela real, a uma rainha nua, pálida como a sua vontade-mármore aos anjos que a atormentam de seus nichos absurdos...

    (Estou viajando..., né?)

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  2. pablo16.8.09

    León é duca!
    Abraço

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