domingo, 10 de maio de 2009

UMA CONVERSA SOBRE POESIA

É possível o diálogo entre a tradição e as vanguardas ou uma poesia de invenção deve ser necessariamente uma poesia de ruptura?

A tradição nada mais é do que o registro histórico de sucessivas rupturas. Dante hoje é canônico, mas não o foi em sua época, quando participou do movimento do “doce estilo novo”, subversivo não apenas na estética, mas também na ideologia do amor, próxima ao pensamento gnóstico. Escrever a Divina Comédia num dialeto vulgar (que deu origem ao idioma italiano) e não em latim, a língua culta da época, foi um gesto de transgressão. O Fausto de Goethe não é menos inovador, ao romper os limites entre poesia, prosa e teatro, numa linguagem total. A segunda parte do poema, em particular, aproxima-se muito de experiências de vanguarda, e não por acaso foi uma das fontes de inspiração de Sousândrade no seu Guesa Errante. Todo grande poeta dialoga com o passado, inventa uma tradição para si (como dizia Borges) e arremessa o disco mais para a frente, acrescentando alguma coisa ao repertório. Há uma relação dialética entre o passado e o presente de criação, como diz Haroldo de Campos no livro O arco-íris branco; o que é preciso, a meu ver, é saber identificar na tradição o que se tornou obsoleto, pelo uso excessivo, e o que permanece vivo, instigante, desafiador.

(Trecho de uma entrevista que o poeta Hilton Valeriano fez comigo e publicada no blog Poesia Diversa. Leiam a matéria integral na página http://www.poesiadiversidade.blogspot.com/ Em tempo: confiram também o blog do Laboratório de criação poética, na lista de links ao lado.)

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