URUTAU
Para o Carvalho Junior
ave da noite 
olho da noite 
em nãos 
de nunca mais
olho amarelo 
nos fumos da noite
lua amarela 
em nuncas 
de nada mais
emenda-toco 
de unhas curvas
uruvati, urutaguá 
canta os pedaços de mim.
dito kuá kuá 
dito pássaro-
princesa
canto de arame 
e arranha-tripa
se acaso 
se entremostrasse
no último infinito 
do fim
esfumado 
entre agapantos
e alamandras
entre os pedaços de mim.
uruvati
come-morcegos
urutaguá
come-lagartos
onde está 
o meu eu
oh mãe-da-lua?
onde está 
a minha ela
oh pássaro-
fantasma?
no último 
fim de mim?
O que canta 
no galho
transforma-se 
em galho
o que canta 
no tronco
transforma-se 
em tronco
canto tonto 
nos entornos 
do sem fim
repercorre ângulos
no mais rascante de mim.
(Poema de meu livro Cantigas do
Luaréu, publicado neste ano pela editora Arribaçã)

 

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