sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

UM POEMA INÉDITO DE CLAUDIO DANIEL

















2019
Para Bao Dei

Caminho
de um escuro
a outra treva
no esqueleto da noite.
Palavras são corvos invisíveis.
Tudo é silêncio
num tempo de desaparições.
Apenas no mercado negro
da memória
revisito as cenas
da triste comédia.
O relógio é mudo
as horas abolidas.
Vem, cavalo negro
da insanidade.
Borra o mapa de mim mesmo.
Listas negras
silêncio imposto
execuções nos campos
execuções nas ruas.
Jornais mentem como juízes.
Esta é a rosa dos corvos
companheiro Bao Dei.
Este é o reflexo sujo
da faca nas águas do rio.
Que venham os carrascos.
Que venham os açougueiros.
Nunca deixarei de rebelar-me
nem que seja neste poema
pesado como um navio.
Nunca deixarei de amar o meu amor.
Nesta noite imensa como um sanatório
soldados removem seus rostos
e mostram-se nadas de nada.

2018



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