Tunisiano de cabeça nervurada assenhora-se
da unha mínima 
da história
enfurece letras que são bichos
de um minucioso horror
quando a morte engole manápulas
e adensa paisagens-vértebras
daqueles que não têm nome
daqueles que 
não têm nome nenhum nada além 
de ninguém 
tudo é um jogo desjogado de
lacraus
letras que são bichos no escuro
letras que
são lepras de lorpas no escuro 
tateando entre os tufos da fome
tateando 
entre os húmus da usura tateando
entre 
assemelhar-se anfíbio 
assemelhar-se reptante no asco 
da rachadura no asco do desvão
em que se obliteram as anfetaminas
da desmemória
linhas incisivas num crescendo
menos o focinho
menos a mandíbula menos as
tíbias esmagadas no 
fosso monocromático do não – 
há uma caixa torácica que canta 
sozinha no deserto de Mojave
onde marines enrabam desvestidas traqueias
antes de matarem qualquer coisa
viva –  
dentes-de-leão ressonam numa
tarde esfumada de setembro
em que um poeta (tunisiano?)
soletra a sub-reptícia 
sombra da vivissecção.
2014 

 

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