domingo, 29 de setembro de 2013

POEMAS ERÓTICO-AMOROSOS




PARTITURA

Perplexidade, raios de um sol

que redesenha seu centro;

essa matéria tão delicada,

ferozes epitélios da flor;

deslizando das pupilas,

revoluta, para outro mar,

após tingir o flanco da noite.

Fosse apenas o perambular

em outra relva, seria tema

de chanson;  dissociada de mim,

reclinada em lua minguante,

seria musa de retrato fauvista,

excedendo o rubro tigrino.

De todo modo, um dia vou

felinizá-la em partitura.

RAPTO 
Para iniciar uma lua pelos filamentos, em articulações

de répteis.

Obliterar os arredores

ao esquadrinhar a pele.

Descrever

joelhos como náutilos,

seios como escabelos,

esse é o meu hibridismo,

minha fome vertebrada.

Acontece que

a expansão do branco

bifurca-se, espraia-se

esqualidamente

do lábio ao umbigo,

em simulado rapto.

Ame o mapa de meu rosto,

sua caligrafia de incinerações.


ESCRITO EM FLOR

paisagem musical

onde o amarelo
dá sentido ao vermelho:
esta é uma canção
de amor.

*

lábio (pétala)
submerge
em topázio-tigre,
até sangrar as ilhas
do desejo.

*

esfinge do espelho
ou cegueira:
(real) imaginária.

*
uma flor (a lebre), partículas do mundo nas retinas.

*

cada abelha sonha
uma rosa imantada.

*

violetas indagam
onde trópicos noturnos,
ritmos bruxos,
areias núbeis
de contato.

*

no avesso das pálpebras:
onde ver o porto
da viagem,
do mistério ao desatino.


NOITE-SEIOS

luazulada

alvíssima

deslinda-

se no céu

finíssima

auréola:

pó de luz

que cintila

nos róseos

mamilos

desnudados

— lua

em luas

refletida,

prata

em prata

lucilada


NOITE-ESPERMA

esbranquiçadas

estrelas

prateiam

o negrume

cetinoso

com lácteos

jatos

(deslumbre

de luzes)


YUMÊ

 tu-
as pál-
pebras: me-
chas de té-
pida seda
escura;

— o charme
sutil da lua
trêmula, em
rápidos
        traços
de pincel.

no tumul-
to de teus
pequenos
pés, o salto
do felino e
o ágil rumor
                   de asas
                               da butterfly

                                                             

GOYA

maja
desnuda

se
espraia
e
adensa

na
cambraia
de
provença


SUTRA

para Reginabhen

pálpebras de alfazema
cintilantes luas sem enigma
sob o céu anúbis-tânger-cicatriz
na seda cor de nuvem que simula o desejo
serpenteiam formas de dançarina moura
de seios tamarindo e lábios sabor anis
o seu púbis shiva kali irrompe como rosa
cítara que emudece o pensar do amante
e lhe toca o coração
no mais cálido êxtase de santos dervixes
mulher sem álgebra, sem mitologia, sem cabala
ou neurocibernética quântica
a mais-que-perfeita expressão do verbo
que resume à sua maneira schopenhauer
os manuscritos de alexandria
os fabulosos cálculos dos astrônomos
e os acordes finais e um pianista de blues
dama feita para mim e o meu desejo de outro
que em tuas mãos é um leão domesticado
e no entanto és apenas uma mulher
deitada no lado esquerdo da cama

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