quinta-feira, 8 de novembro de 2012

POEMAS DE ANDRÉIA CARVALHO


LUNARES LEONINOS

Estarei sempre-viva.
Cultuo esta solidão que laçam,
Mais um palco para o sol.

Tenho leões
Mesmo adormecidos
Rugem-me evangelhos
Como músicas empoeiradas
Sarapintadas,
letras panteras deslizantes
no livro manuseado.

Os leopardos sonâmbulos.
Passo-signo.
Leituras que nos caçam
a dinastia extinta.

Incansável realeza
Indestrutível ronda

Estou sempre-viva
Mesmo adormecida.

Espreito o que me espreitam.
Nada me descreve. Antes, eu.
E tu, e os topázios.

Aquilo que tenho e que só,
tu alcanças.
Aquilo que tens e que só,
eu alcanço.

Rugidos e extratos-feras.
Enquanto adormecem
sob nossos calcanhares:
galanteio, vaia, devoção.

MUSA CEGA

Atravesso a imagem da pedra
Imbuída e lenta de obsidiana
Forças tectônicas me ascendem
E sou a devastação
para sepultar-me
no dom da palavra santa

Bebo tua voz
E sou o sal

Meu sangue metálico, a pedra
do oratório

Não há vida minha
Sem o verbo teu

terra
meu êxodo sideral
canta em mim como a carne crua de um meteroro

PARA FAZER PONTAS DE FLECHAS

Mineralizar a lágrima
Fazer-se rútilo

Vibrar além da tua sangria
Pelas ervas, pelas especiarias
Com a estatura do musgo,
dos fermentos,
do sedimento

Como se os deuses me dessem as mãos, interiormente.

A amálgama fria volatiliza-se

Não pela tua eloqüência vulcânica, tua chegada ou partida.
O ourives é a atmosfera magnetizada
Ao teu redor

Quando os deuses vibram dentro de tua garra.

HÁ UM HOMEM CORTADO EM DOIS PELA JANELA

Hosana para este
Que atravessa carnes e estátuas mornas
Para este
Dos campos iridescentes
De frutos e raízes em caduceu
Que atravessa nomes
E nos responde
Trêmulo átimo
Dos campos magnéticos

O belo insone dos campos magnéticos
Iridescente
Hosana
em suas pegadas de carvão salpicado

Um comentário:

  1. Adorei!Certeiro,lindas paisagens na sua poesia!Parabéns!

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