terça-feira, 24 de abril de 2012

DOIS POEMAS DE KHLÉBNIKOV


Herdades noturnas, gengiscantem!
Crepitai, bétulas azuis!
Albas da noite, zaraturvem
Ao céu cerúleo mozarteante!
Goyam trevas como nuvens!
Roops é um cirro soturno!
Voa uma tromba de risos,
Enfrento firme o verdugo,
Gargalham garras de gritos,
E em torno o silêncio escuro.
A mim convoco os valentes,
Saem dos rios os afogados,
O miosótis, estridente,
Declama a velames pardos.
Gira o eixo cotidiano,
Move-se a massa verpertina,
Nas águas da noite vogando
(Sonho) uma carpa-menina.
Mamáj - pinhos ao vento!
Nuvens nômades de Báti!
Como cains do silêncio
Palavras santas se abatem.
Passo tardo, cercado de tropas,
Asdrúbal azul vai ao baile das rochas.


Tradução: Haroldo de Campos. 

* * *
 
Neste dia de ursos cerúleos
a correr sobre cílios tranqüilos
transvejo para além da água azul
o acordar na taça das pupilas.

Na colher de prata de olhos latos
vejo a procelária em mar sonoro
e ao largo vai a Rússia dos pássaros
transvoando entrecílios ignotos.

Marventoso em celamor soçobra
a vela de alguém na azul esfera,
e eis que o desepero tudo engolfa
trovão e porvir de primavera.



Tradução: Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman.
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário