domingo, 12 de abril de 2009

PENSAMENTO DO DIA

“O artista não tem que se importar com o fim social da arte, ou, antes, com o papel da arte adentro da vida social. Preocupação esta que compete ao sociólogo e não ao artista. O artista tem só que fazer arte. Pode, é certo, especular sobre o fim da arte na vida das sociedades, mas, ao fazê-lo, não está sendo artista, mas sim sociólogo; não é um artista quem faz especulação, é um sociólogo simplesmente.”

(Fernando Pessoa, citado por Leyla Perrone-Moisés no ótimo livro Aquém do eu, além do outro.)

5 comentários:

  1. Discordo. O artista deve se preocupar com o "fim social" da arte, sim. Como deve estar atento ao que está sendo feito de seus frutos (- desculpe, sociedade é isso; é estender os olhos sobre o acampamento inteiro; alguém tem que cuidar).
    O máximo que um sociólogo, reunido a outros, consegue, é mapear a sociedade. E transpor esse mapeamento para dentro da academia, que por sua vez dilui o conhecimento, quando o encaminha.
    O artista vive vive, expressa, especula, conta, canta, encanta a sociedade, e o faz de fora da academia.
    O mundo deve está certo. São só os papéis é que estão invertidos.

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  2. Aninha, o que Fernando Pessoa quis dizer (e concordo plenamente com ele) é que o artista deve se preocupar, em primeiro lugar, em criar arte de qualidade. É isso o que o define como artista. Quando ele coloca questões de natureza social ou política em primeiro lugar, o resultado é que sua arte perderá qualidade, se tornará peça publicitária, demagogia populista, panfleto marxista ou exercício fraudulento de sociologia. Isto acontece também na crítica literária, em autores como o picareta do Roberto Schwartz, por exemplo, que deixam de lado a avaliação estética da obra de Machado de Assis para fazer considerações sociológicas alheias ao romance enquanto obra de arte. Nada impede que o artista ou intelectual tenha opiniões políticas e as expresse (eu mesmo faço isso, neste blog inclusive), mas tendo o discernimento de separar o discurso artístico (onde o que importa é a construção de linguagem, a invenção formal) e o discurso político ou sociológico (onde o que importa é o aspecto referencial, não o formal). Em resumo: os poetas podem denunciar a guerra, a miséria, a opressão etc., desde que isso não se sobreponha à sua função essencial, que é fazer arte de qualidade, produzir linguagem.

    Beso,

    CD

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  3. Cld, quando eu foco a preocupação do artista com um fim social, já pressuponho uma preocupação com a criação de qualidade, anterior.

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  4. Aninha, eu sei, o problema é que existe uma tendência populista, demagógica na poesia brasileira (e na crítica também), que vem de longa data... da década de 1930, para ser preciso, do velho "realismo socialista", de Iosip Stálin... para os autores dessa turma, um poeta é importante se mora na periferia, se é negro, pobre ou gay, e não por escrever bons versos; o que importa, para eles, é que a poesia "denuncie a realidade social", ainda que seja escrita com versos de péssima qualidade. Já os críticos como Roberto Schwarz aplicam isso no campo teórico, com um discurso sub-marxista que deriva do stalinista Luckács... minha briga é com essa gente, que a meu ver presta um imenso desserviço à literatura, especialmente quando essa ideologia retrógrada e autoritária é transformada em política cultural. Beso do

    CD

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