Dezenove cabeças de ninguém:
cabeças-
de-corvo,
de noite-
desnoite,
de lua-
nanquim.
Abatidos a tiros:
noite 
negra-
vermelha,
noite 
muda-
estridente  
— extermínio.
carmim.
Linhas móveis 
multiplicam 
luzes: 
indistintas 
estrelas.
Os que somem
sem deixar 
vestígios;
os que calam 
sobre mortes 
anônimas.
Sim: 
vivemos 
no tempo 
dos invisíveis,
no tempo 
descolorido
dos surdos-mudos.
A mutabilidade 
dos corpos, 
reconfiguráveis.
As estruturas 
de poder 
mimetizadas 
em abismo.
A indiferença 
ante os dezenove 
desalinhados 
corpos
em Osasco
e Barueri.
Onde o limo 
recobre 
qualquer hipótese 
de civilidade.
Sim, houve 
um massacre: 
todos nós 
somos culpados.
Poema inédito de Claudio Daniel, 2016
Poema escrito para recordar o massacre
de 19 jovens negros ocorrido em agosto de 2015 em Osasco e Barueri, no estado de São
Paulo, por policiais militares.


