(FRAGMENTOS)
a Inacessível, a Negra, cicatriza o álibi do presenciar.
colibri até seu índigo, marcheta a matriz dos motivos.
na trapa, onde transtornam os anos de vertigem furtivos,
o espelho se desfaz em cacos: era uma atriz a menina confidente.
estala o caranguejal dos feitiços, quando a isolada
serpe da angústia e da rinha espreguiça entre as brasas
e ingurgita seu deslocar além do íntimo ornamento.
Ela agita suas pulseiras, seu rosário de crânios já não cala;
a flor do som amalgama ao sorrir desde as águas, calma
a espaçada mudança das almas. a conta do destino descrava,
desfixa a mente sua insurgência, madressilva, este ruminar
de um amante. avante vai a lua, evade a face dos emblemas,
copia tremores o revôo em que se integra com seu poço.
(...)
porque adorna uma deusa, o peregrino da espécie deserta.
soletra, como a lepra do pária, uma espera intraluzente, muda
a marca de ofícios e penares em ondas aturdindo, turba ao acudir
interior de um mercado zahorí. palustre o espírito sob os tules,
morada iguana; confim do contemplar, a
ponto de arrostar seu néctar, os devas a corrente afinam
com o limo. com estoque de antiga penetração, o estro
enquanto taumaturgo sacode o sistro da mente, címbalo.
e irradiando usurpação dos prazeres interroga nosso frágil
interregno, rio seu corpo transparece sem um rol entre as pontes.
o convite ao desvio se dá invicto ao saturar de alucinares:
aves lunares roubam sementes entre o vime da mímesis.
(...)
é que esta fome é estame de uma flor que não se abre.
aquela deidade, jamais de ironia, em feixes de cariátide deleite,
ao assemelhar as boas-vindas por igual desflora a ansiedade e a alegria.
o desejo descola da sombra, e vai tão alto, que ao socairo
nossa oração junto ao abismo é o mesmo risco do nascido.
que o desapego me pariu, não o esqueço, embora relembre
o que não convém ao devir. lava, atrai o arisco pela rua,
isca, a poluição dos mentais, mentada pela lâmpada
que já ampara ainda a mania do Mais. quanto tempo simultâneo
amém enraíza por demais em suas desaparições... adentro o ar,
remenda essa noctívaga a ferrugem em que a sonho,
com insônia de fiel sedimento o fluxo de seu amniótico deslize.
Tradução: Claudio Daniel
(Do livro Shakti, de Reynaldo Jiménez. Bauru: Lumme Editor, 2006.)
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