O romance é um gênero literário "superior" à
poesia? A frase, em si mesma, já é ridícula e dispensaria comentários, se não
houvesse editores e romancistas que acreditassem firmemente nela. Em que
residiria a suposta "superioridade" do romance? No número de páginas?
Pouco provável, já que a obra literária mais extensa de que se tem notícia é o
Mahabharata, da Índia, que reúne vários volumes. No "conteúdo"? Menos
ainda: quais romances têm a mesma quantidade de informações históricas, políticas, religiosas e filosóficas que a Odisseia de
Homero, a Divina Comédia de Dante ou Os Lusíadas de Camões? O romance seria
"superior", então, no trabalho formal? Negativo: durante quase 2 mil
anos, a poesia era escrita segundo rigorosas normas técnicas relativas ao
metro, rima, ritmo, figuras de linguagem, e após a adoção do verso livre
surgiram novas formas poéticas, não menos difíceis. O romance, escrito com mais
liberdade formal, era desprezado exatamente por isso até o século XIX, quando
conquistou público e lugar no mercado. Não há uma forma literária superior ou
inferior a outra: o que existe é a valorização, PELO MERCADO, dos gêneros e
obras literárias que são mais acessíveis ao público e, exatamente por isso,
mais "vendáveis". A poesia culta é acessível a menos pessoas do que o
romance por exigir uma outra forma de leitura, que prescinde de histórias,
personagens, e pressupor um repertório cultural mais rico por parte do leitor.
Se há menos pessoas que lêem poesia no Brasil isto se deve a um sistema
educacional falido e a uma mídia que só veicula notícias relativas a certo
"mercado literário", ligado aos interesses das grandes editoras,
distribuidoras e livrarias.
segunda-feira, 27 de julho de 2015
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