Linhas, volumes.
Uma escrita de ossos, nervos,
orbes, lembranças.
Palavras que se perderam em algum lugar
que você evita.
Cenários que surgem de repente
como lagos, cristais,
pequenas facas
brancas.
Uma cobra que não é o Nome que escorre em seus lábios.
Árvore que não diz mais nem menos
do que
isto.
Há um aprendizado para a loucura?
Você esmaga um inseto entre os dedos
mas a sensação
permanece.
É um calafrio que você não pode explicar.
Fibras, tudo são fibras de um tecido miraculoso.
Um tapete oriental
em forma de rim,
no qual somos um minúsculo detalhe,
formiga que cavalga o dorso de um dragão.
Na palma, no pulso, na pele,
você pensou ter sentido os jogos da noite,
mãos fugidias, voz emudecida,
nenhum tabuleiro
ou peão.
Esta não é a face de um sonho,
menos luz, nenhuma membrana,
caralho, você grita
aos miolos de pão.
Formigas de ninguém atravessam de um lado a outro
o canteiro
do jardim.
Existe a ilusão do amor e os dentes, dentes, dentes.
Porque tudo é real.
A pedra que explode nas têmporas.
A Terra em forma de cálice.
A palavra que se reproduz como as aves no Palácio da Deusa
da Lua.
O sentido é apenas a sombra.
Sou a fome de uma claridade que não haverá jamais.
Porque os ritmos, os ritmos, os ritmos.
Porque o riso da cadela.
Celan e a “loucura aberta de um poro”.
Nenhuma saída para parte alguma.
Caranguejos à deriva na chuva, um retrato, um nome
que não é a cobra
que não escorre
em teus lábios.
Jogar-se na sombra em busca do sentido de mascar folhas de
cobre.
Jogar-se na sombra em busca do íntimo escaravelho
tatuado na buceta
da Senhora Linguagem.
Jogar-se na sombra porque pedra é mais do que grito é mais
do que esquilo
é mais do que o turvo
uivo
da lacraia.
Escrever poesia não é um trabalho para homens delicados.
Flor occipital é o nome da cabeça.
Aqui estão todos os jogos, todos os mapas, todas as
palavras,
inclusive aquelas por inventar.
Flor occipital é o nome da cabeça.
Tua voz.
Tuas faces.
Tuas mandalas de ternura e escárnio.
A desfiguração de linhas no corpo convulsivo, explodindo
lêmures.
Esmeralda.
Tudo se inicia e termina com a encantação da esmeralda.
À
memória de Rodrigo de Souza Leão, 2011
(Poema de Claudio Daniel, publicado no livro Cores para cegos, Lumme Editor, 2012.)
(Poema de Claudio Daniel, publicado no livro Cores para cegos, Lumme Editor, 2012.)
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