segunda-feira, 20 de julho de 2015

POEMAS DE GREGORY CORSO


SOL
(poema automático)

Sol hipnótico! sagrada quase eterna esfera! taça em chamas! balbuciar do dia!
Sol, solar teia de calor! seca taça tropical! sede aracníde! Sol, nãoágua!
Sol miséria sol ira sol doença sol morte sol podre sol relíquia!
Sol baixo e torto sobre o céu africano, derramado quase vazio, ampola oca, osso do   sol,pedra do sol, sol de aço, relógio de sol.
Sol dinossauro do elétrico movimento extinto e fossilizado, balbucie!
Sol, temporada das temporadas, pegar o verdadeiro peixe solar, na verde costa tomando sol como loucura.
Sol eros infernal superreal conglomeração de ira miasmática!
Sol, seres do pôr do sol chocados na desértica vida, cai!
Sol circo! tenda de hélio, apolo, rá, sol, sun, triunfem!
O sol como uma fumegante nave caiu no lago Teliphicci.
O sol como um fumegante disco gelatinoso escorreu pelos alpes Telephiccianos
O sol comanda a noite e segue a noite e comanda a noite.
O sol pode ser conduzido por uma carruagem.
O sol como um fumegante pirulito pode ser chupado.
O sol tem a forma de um dedo curvo que te chama.
O sol gira anda dança foge corre.
O sol favorece a cítrica palmeira de tuberculosos pulmões
O sol engole o lago e alpes de Teliphicci a cada ascensão.
O sol não sabe o que é gostar ou não gostar
O sol toda minha vida caiu no lago Teliphicci.
Ó buraco constante onde tudo pra lá é verdadeiramente Bizantino!

MINHAS MÃOS SÃO UMA CIDADE

minhas mãos são uma cidade, uma lira
e minha mão em chamas assovia
e minha mãe toca Corelli
         enquanto minhas mãos queimam

EXTRAVAGÂNCIA ITALIANA

O filho de um mês da Sra. Lombardi morreu
Eu vi na funerária do Rizzo
uma enrugada e roxa cabeça que não cresceu

Acabaram de rezar uma grande missa pra ele
Agora estão saindo
...uou, tão pequeno caixão
E dez cadillacs preto o carregando.

TENHO SAUDADES DE MEUS QUERIDOS GATOS

Minhas mãos aquareláveis agora estão sem gatos
Sentado aqui sozinho no breu
minha cabeça em forma de janela está curvada com tristes cortinas
Estou sem gatos sem vida quase
atrás de mim meu último gato enforcado na parede
morto por minha mão bêbada inchada
 E em todas outras paredes do sotão á adega
minha triste vida de gatos enforcados

EU SOU 25

Com um amor uma loucura por Shelley
Chatterton            Rimbaud
e o latido de necessidade da minha mocidade
                                      passou de ouvido a ouvido:
                 EU ODEIO VELHOS POETAS!
Especialmente velhos poetas que se retratam
que consultam outros velhos poetas
que contam sua juventude em sussurros
dizendo: -- Eu fiz esses naquela vez
                       mas isso foi naquela vez
                       foi naquela vez--
Ô eu iria, velhor que falar nunca fez,
a eles dizer: --sou seu amigo
                             o que vocês eram, através de mim
                             serão mais uma vez--
E a noite na confiança de seu lar
suas desculposas línguas arrancar
                             e seus poemas roubar.

TRÊS

1
O cantor de rua está doente
agachado na fachada, segurando o coração.

uma canção a menos na ruidosa noite.

2
Fora do muro
o envelhecido jardineiro planta suas tesouras
Um novo jovem
veio podar a cerca viva

3
A Morte chora porque a Morte é humana
passa o dia todo no cinema quando morre uma criança.

SUICÍDIO EM GREENWICH VILLAGE

Braços abertos
mãos pressionando pra fora da janela
Ela olha pra baixo
 Pensa em Bartok, Van Gogh
e nos desenhos do New Yorker
Ela cai

Tiram ela dali com um Daily News na cara
E o lojista joga água quente na calçada

HINO DO MAR

Minha mãe odeia meu mar
meu mar devo afirmar.
Eu a avisei contra isso
era o mínimo a ser dito.
Dois anos demorou
mas o mar a devorou.

Na beira do mar achei uma estranha
mas linda comida;
Perguntei ao mar se podia comer
e sim eu podia.
--Oh, mar, que peixe
macio e doce este é?--
--De tua mãe o pé--foi a resposta

Tradução: Matheus Carrera Massabki 

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