Meu único desejo:
Adormecer nesse retrato
Não ser mais as cinzas
que encerram
a ressonância dos pulmões
Seus braços convulsos estendidos sobre a mesa
contém o incêndio de cada minuto
As facas se voltam contra o sol
Anulando os meandros da face
O corpo
se tornará abrigo dos cinco elementos
Os vestidos
se diluirão nas nuvens
A chuva
será tua transpiração
O peito se retorce em tua única afirmação:
Falar
é entregar as armas ao assassino
Sem saber que o silêncio parte minhas vértebras
ao meio.
SEM TÍTULO
I
Ele é um homem
que arrasta os dedos
nos bolsos
Guarda violinos
nas costas
Perfura subterrâneos
de desordem
Descansa em casas
vazias
Constrói vitrais
no mar
Oferece minuetos
aos pés
Percorre a via férrea
da velhice
E jura a vida
diante da rocha.
II
Circularmente
as lâminas resvalam o maxilar
Há dias carcomidos
em que o esqueleto
não suporta o mais leve
sobressalto
Há dias
em que o sol é uma úlcera
cerrando os olhos
E o abismo um feixe
de âmbar e sal
É o homem
que apunhala as raízes
dos cadáveres
Não há retorno
Você
Fratura o percurso ígneo
da noite taciturna de braços em riste.
Recriando
os oceanos dos cabelos dos loucos.
Ariane Alves dos Santos é poeta e mora em São Paulo. Formou-se em Letras e integra o coletivo Poenocine, dedicado à troca de textos, leitura e estudo de poesia. Publicou poemas na revista Zunái.
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