quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

NOVOS POETAS BRASILEIROS (XXVIII)

SEM TÍTULO

Meu único desejo:

Adormecer nesse retrato


Não ser mais as cinzas

que encerram

a ressonância dos pulmões


Seus braços convulsos estendidos sobre a mesa

contém o incêndio de cada minuto

As facas se voltam contra o sol

Anulando os meandros da face


O corpo

se tornará abrigo dos cinco elementos

Os vestidos

se diluirão nas nuvens

A chuva

será tua transpiração


O peito se retorce em tua única afirmação:

Falar

é entregar as armas ao assassino


Sem saber que o silêncio parte minhas vértebras

ao meio.


SEM TÍTULO

I

Ele é um homem

que arrasta os dedos

nos bolsos

Guarda violinos

nas costas

Perfura subterrâneos

de desordem

Descansa em casas

vazias

Constrói vitrais

no mar

Oferece minuetos

aos pés

Percorre a via férrea

da velhice

E jura a vida

diante da rocha.


II


Circularmente

as lâminas resvalam o maxilar


Há dias carcomidos

em que o esqueleto

não suporta o mais leve

sobressalto

Há dias

em que o sol é uma úlcera

cerrando os olhos

E o abismo um feixe

de âmbar e sal


É o homem

que apunhala as raízes

dos cadáveres

Não há retorno


Você

Fratura o percurso ígneo

da noite taciturna de braços em riste.

Recriando

os oceanos dos cabelos dos loucos.


Ariane Alves dos Santos é poeta e mora em São Paulo. Formou-se em Letras e integra o coletivo Poenocine, dedicado à troca de textos, leitura e estudo de poesia. Publicou poemas na revista Zunái.

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