segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
NOVOS POETAS BRASILEIROS (XXXI)
LUZ EXTINTA
Primeiro, eu digo: fio de fumo.
E descemos.
À luz interrompida, o coro.
Divino enfurnado entre as coxas – extensões do escuro.
(Ou fagulha alojada no magma oculto).
Sorteio. O pano dos seios. E a pele-lençol.
Libações aos balidos. Pés e torsos.
Murmúrios noutras línguas. Lanhos.
Nome interrompido. Saliva de Brômio.
E manhãs que assustam.
O IMPERADOR
Substância
Ele não transcende
Esta forma provisória
Mas leva as maçãs de ouro
Ao jardim − herói solar
E ensina que a beleza
Não é um golpe de sorte
Moeda
Reina sobre o concreto
O visgo de ouro da pedra
O que emana do petróleo
Poder que fascina tanto
E mesmo com mãos atadas
Metralha e metralha
Com efeito vibratório
Ou o peso da Palavra
Quebrada no meio de um crânio
Não é um golpe de sorte
Mas leva maçãs de ouro
AUSÊNCIA
1.
Antes mesmo de ser, ele fere – íntimo desejo.
Morde por dentro a finitude
& chuta
(pés de bode, cabeça de carneiro)
Aqui, o corte, uma fenda:
eu te procuro nesta fresta.
2.
Não escorre entre as coxas, no abandono,
o filho do espanto, desfeito, viscoso:
ausência,
antes mesmo de ser.
3.
Clareira do sangue mais sujo.
Costura ESTE gesto ao grito.
E a seta que se lança à máxima estrela
(uma estrela do barro)
entorna só
memória de um querer
encolhido
latente.
4.
Não dedilho o abandono.
Não reflito.
não mergulho
na atmosfera da fuga.
Sobrevoo a pauta.
Pura matéria, sem alma,
inteiramente escura:
musical.
5
Eu te pertenço mais quando se apaga
a chama de uma vela.
Eu te perco no eterno,
e te procuro aqui, nesta fresta.
Respiro baixinho,
morro devagar.
6.
AGORA, minha lua de fogo incendeia os corpos petrificados
avança pelas trilhas de Saturno
resgata palavras no ventre da baleia
gargalha e fecunda a fossa
onde Nanã apanha o medo.
7.
Eu virei com as mãos a caixa de dádivas:
eram males também.
Tive a pressa de um herói, entornei manhãs, entornei
a Constelação de Órion
no centro do mapa.
Entornei o Arqueiro.
E ele feriu o calcanhar
do meu bicho do espanto.
Fincou na massa espessa do Acaso
a seta que se lança
à máxima estrela.
Poemas de Maiara Gouveia.
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outra vez: obrigada.
ResponderExcluirótimo saber da tua leitura.
um abraço!