Antonin Artaud visitou meus sonhos
pedindo que eu fosse vê-lo na prisão
Eu o temia que se o soltassem,
ele sairia mais louco...
eu o temia que num impulso
ele mataria a primeira pessoa que visse numa encruzilhada...
Sabia que ele estava morrendo...
Sua face terrivelmente marcada por verrugas
tremia arrastada por um maldito pesadelo da sociedade.
Amputaram seu cérebro como também fizeram com outros loucos visionários.
Antonin Artaud,
você esteve em todos os lugares do meu sonho.
No fundo, não estava em lugar algum.
Eu o amava como a um irmão
Eu o acariciava.
Você se despia e exibia toda a sua pele petrificada
estigmatizada...
E mais eu o amava, como nunca havia amado ninguém antes.
Sua face sarcástica
demonstrava um desprezo total pela Dor.
Havia um brilho, uma beleza que sua alma inocente
revelava e fazia surgir de um fundo tenebroso e impuro.
Sei que sua alma de águia negra sobrevoou os cinqüentas eletrochoques
e que nunca mais voltará à esta terra desumana
onde ainda passeiam os homens de mediocridade vergonhosa...
sei que sua asas de águia negra decolam do arranha-céu
levando consigo meu espírito...
Ó Antonin Artaud,
Seu espectro azul me persegue
As suas incuráveis chagas desabrocham as rosas do inverno...
Chiu Yi Chih, poeta, formado em Letras Clássicas (grego) pela USP.
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