ANTES QUE A NOITE MORDA
( Para Ana Lúcia Paterniani )
Cá estamos
com essa exclusiva insanidade
cotidiana
roendo unhas
entre caixas de aprazolan
e n cápsulas de sertralina,
cloridrato
A prescrição funciona
O pânico foi emoldurado
entre duas lâminas de vidro
e sustenta-se num parafuso
enfiado na parede
de um quarto
que evitamos
Bem-vinda é a chuva
nessas noites de alforria
conquistada
a faca e foice:
parte da água
percola nos jardins
e na terra dos vasos
e, como um homem comum
dará boa cama e boa seiva
a que despeja no telhado
- ó triste fado -
percorre rotas contorcidas
no interior de ductos
que quebram-se em ângulos
nos túneis de metal galvanizado
antes de lavar o chão do pátio
e a chuva do pátio
terá destino mais prosaico
num metrô de PVC
que desemboca na sarjeta
A estória dessas águas
sumaria a história de uma vida
e nesta noite de ação de graça
e bioquímica domada
pegamos uma tela em branco
pigmentos, pincéis
e criamos cenas de uma infância surreal
- P.S.:
As águas das pias, dos chuveiros
dos vasos sanitários
sentenciadas e servis
terão destino asqueroso
Antes que a noite morda
bendita é a chuva na loucura nossa
Assis de Mello é natural de Piracicaba, São Paulo. Biólogo com mestrado em Zoologia e doutorado em Biologia/Genética, é docente na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”- Campus de Botucatu, onde também se dedica ao estudo de insetos. Publicou o livro de poesia Na borda da ilha (Lumme, 2010).
Escreve o blogue http://coisasdochico.blogspot.com/
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muito bom.
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