AURORA
Rosa, rosas. A primeira cor.
Rosas que os cavalos
esmagam.
DO ECLESIASTES
Há um tempo para
desarmar os presságios
há um tempo para
desamar os frutos
há um tempo para
desviver
o tempo.
REBECA (II)
A moça do cântaro
e
seu
silêncio de água
e de barro.
ESTRELA
A tranquila explosão
fria
fora do tempo e
nos olhos
esplêndida
solitária
no ápice do amor
tremeluzia.
ESFINGE
Não há perguntas. Selvagem
o silêncio cresce, difícil.
HABITAT
O peixe
é a ave
do mar
a ave
o peixe
do ar
e só o
homem
nem peixe nem
ave
não é
daquém
e nem de além
e
nem
o que será
já em nenhum
lugar.
A LOJA (DE RELÓGIOS)
I
O relógio
horologium
a hora
o logos.
II
Os peixes estão
no aquário
o touro está
na balança
e a virgem
parindo
os gêmeos.
III
os relógios estão
na eternidade.
* * *
O branco é campo para o desespero
É quando sem infância persistimos
E nos fita de face a luz sem pausa
Da memória suspensa (tempo em branco).
O branco é luz aberta: existimos
Sem sombra de segredo, sem mais causa
Sem mais infância em nós. É desespero
Nos fixando (puro campo branco).
O branco é branco apenas. Sem refúgio
Insistimos na luz. A luz constrói
A flor em nós (sua rosácea branca).
O branco é campo para a crueldade
Onde nos encontramos: tenso espaço
Na luz vivente (branco apenas).
(FONTELA, Orides.
Rosácea. São Paulo: Roswitha Kempf Editores, )
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