quinta-feira, 13 de agosto de 2015

POEMAS DE ANTONIO RISÉRIO















LEMINSKIANA

Querido Enigma:
estou bêbado.

Vou, como se diz,
pisando nas asas.

Paro numa estrela
e sorteio o mar.

Mas estranho
– e muito –
o meu e o teu

linjaguar.


ARTE POÉTICA

na serra da desordem
no piracambu tapiri
em cada igarapé do pindaré
em cada igarapé do gurupi
existe uma palavra
uma palavra nova para mim

(Do livro Fetiche. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, 1996.)


PARA O MAR

1

Países intraduzíveis
em seus caprichos
de treva e luz.

Pai de feitiços
em praias de coral.
Mãe de mistérios
de inúmeras cores negras.

Cama de deusas,
mina de deuses,
sob estrelas.

3

Águas marinhas
sobem acima
do nível do mar.

Sambaquis submersos
na memória
das marés.

Barco sem saída
e eu aqui
nesse convés.


FIM DE CASO 3

onde quer
que você        
me esqueça

que eu
apareça
e cresça

fantasia
espessa

doendo
densa

na sua
cabeça.


ORIKI P/ OIÁ-IANSÃ

Leopardo no ar alto
fuzilando a treva.
Ira e brisa pelos campos.
Corisco na cara da escuridão.

Senhora que incendeia
a casa da mentira
Senhora sem medo algum
Senhora que relampeia
entre os tambores do orum.


STRASSENKINDER

Crianças que miram espelhos
e giram as caras cansadas
onde narciso não é conselho
nem comboio acha a estrada.

Criança de poucos pentelhos
de rubras roupas rasgadas
entre guinchos gosmas e relhos
orgasmos de putos no ralo.

Crianças de coxas vermelhas
no beco das bocas usadas
moeda e moenda dos grelos
nas fodas das doidas danadas.

Crianças que masturbam velhos
e chupam xotas grisalhas
lambendo o sangue dos medos
nos dedos grudando de gala.

*

Sob a navalha da ira
o sol se descola sagrado
que a vida por mais que me fira
não me verá conformado.

(Do livro Brasibraseiro. São Paulo: Landy, 2004)

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