A proximidade entre a poesia
de Brecht e as baladas tradicionais já foi observada por Otto Maria Carpeaux, para
quem o verso do autor alemão tem o feitio “de canção popular e da balada
popular, é deliberadamente primitivo”, sendo moderno “apenas pelo uso da
linguagem dos jornais e da vida cotidiana”. O prosaísmo de Brecht, segundo
Carpeaux, “é herança da ‘objetividade nova’. Mas o milagre é esse: que esses
versos primitivos e essa linguagem prosaica fazem profunda impressão poética,
às vezes até sentimental; e gravam-se na memória como se os tivéssemos
conhecido desde sempre” (CARPEAUX: 1994, 286). A Nova Objetividade foi um
movimento artístico alemão surgido na década de 1920 como reação ao
Expressionismo -- recusava a expressão mais subjetiva e colocava em primeiro
plano a denúncia social, a crítica mordaz à burguesia e à guerra. Trata-se portanto de uma arte de forte acento realista que recusava
as inclinações abstratas defendidas pelo grupo Die Brücke [A Ponte]. O termo foi criado em 1923 por Gustav Hartlaub, que
publicou um artigo nos jornais manifestando a intenção de realizar uma
exposição com o título Nova Objetividade, que ocorreu dois anos depois no Kunsthalle
de Munique e deu nome à nova tendência figurativa da arte alemã das primeiras
décadas do século XX. O movimento sofreu forte perseguição dos nazistas e
deixou de existir em meados de 1930. Um poema de Brecht que representa bem a
dicção realista é a conhecida peça Perguntas
de um trabalhador que lê, publicado no livro Svendborger Gedichte (Poesias de Svenborg), escrito quando Brecht
estava exilado da Alemanha nazista:
Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia, várias vezes destruída,
Quem a reconstruiu tantas vezes?
Em que casas da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma esta cheia de arcos do triunfo.
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia, várias vezes destruída,
Quem a reconstruiu tantas vezes?
Em que casas da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma esta cheia de arcos do triunfo.
Quem os ergueu?
Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio tinha somente palácios para os seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida, os que se afogavam gritaram por seus escravos na noite em que o mar a tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu alem dele?
Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio tinha somente palácios para os seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida, os que se afogavam gritaram por seus escravos na noite em que o mar a tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu alem dele?
Cada pagina uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?
Tantas histórias.
Tantas questões.
Tradução: Paulo César de Souza
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