HOMEM E MULHER
PASSEIAM NO PAVILHÃO DO CÂNCER
O homem:
Nesta fila aqui estão ventres apodrecidos e nesta está o peito apodrecido. Lado a lado camas malcheirosas. As enfermeiras revezam-se a cada hora. Vem, levanta sem medo esta coberta. Vê, esse monte de gordura e sumos putrefatos para um homem um dia já foi tudo, também foi êxtase, lar. Vem, olha esta cicatriz no peito. Sentes o rosário de pontos moles? Toca, sem medo. A carne é mole e não dói. Esta aqui sangra como se de trinta corpos. Ninguém tem tanto sangue. Desta aqui ainda tiraram um filho do ventre canceroso. Deixa-se que durmam. Dia e noite. - Aos novos diz-se: aqui o sono cura. - Só aos domingos para as visitas podem estar mais despertos. Já se come pouco. As costas são feridas. Vês as moscas. Às vezes a enfermeira lava. Como se lavam bancos. Aqui o solo já incha em torno de cada leito. Carne nivela-se à terra. Brasa vai-se embora. Sumo começa a correr. Terra chama. |
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
POEMAS DE GOTTFRIED BENN (II)
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