para Juliano Bittencourt
e Valdomiro Bittencourt
e Valdomiro Bittencourt
hosana nas alturas,
no ponto cego das luvas cirúrgicas,
no ponto cego das pinças
e dos bisturis.
o altíssimo laboratório.
*
era um vale sacrocientífico.
congelaram-se dentro da lua nossos
dez litros de sangue.
as cápsulas do teu sêmen
e dos meus óvulos.
*
o tanque onde lavei tuas roupas suspendeu-se de si
como se a água não tivesse espessura.
os enamorados:
olhamo-nos até que se abrissem todos os registros.
*
inspiravas medo.
a sombra das aves incandesceu sobre
as colchas e os móveis.
era tarde para gritar,
mas gritamos.
alguém diria que de uma hora para a outra romperam-se
as mordaças:
que o assassino se ergueu, iluminado —
como deus no monte sinai.
*
depois o fogo surgiu com hematomas nos joelhos.
porque teria aberto as pernas violentamente
e se batido nas quinas,
a morte.
os joelhos roxos.
o pescoço roxo.
a cabeça roxa, dos anéis penianos.
oh! meu tarô macabro,
misândrico,
a corda presa ao primeiro gancho do mundo:
o enforcado.
*
desde então a lua canta o seu próprio derretimento.
as radiografias saem das gavetas à noite,
deitam-se na terra
e encaixam-se umas às outras
misteriosamente.
hosana nas funduras,
aqui os esqueletos conversam como ventríloquos.
suas mandíbulas se abrem e se fecham,
(mas não dá para saber de quem é o braço que os controla.
de onde vem a voz).
*
ouvíamos no quarto,
lembras?
juro-te, cantavam o teu nome,
a torre.
inspiravam medo.
*
sei que estávamos ali.
os pesquisadores tentaram nos chamar;
os bolsistas capes/cnpq,
os doutores,
o baixíssimo laboratório.
alguém diria que o coveiro se ergueu, iluminado —
sobre o barro que ele mesmo amontoou,
com sua pá.
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