POEMA SUBMERSO
olho:
peixe-olho que
desvia
a mão enguia
a
pele lisa a
té
o umbigo e logo
a
flora de onde aflora
(na
virilha) o
barbirruivo
a
ceso
bruto na
fíbio:
glabro
dedos
tão tentáculos
e
crispam esmer
ilham
dorso abaixo a
cima
abaixo brilha
o
esforço — bravo
peixe
tentando escapar mas
ei-lo
ao pé da frincha que
borbulha
(esbugalha?)
roxo
incha e mergulha em
brasa
estala
e
agora murcha
peixe-agulha
e
vaza
vaza
RETRATO DE PABLO, VELHO
da
sombra seu rosto se lança
um
peixe
uma
lua africana
boiando
à superfície gasta e gris
a
calva não dava um aviso
dos
olhos vivos
de
água, vivos
que
engendram antes de ver
a
testa de touro tem brio
empurra
um nariz repartido:
uma
face enfrenta,
a
outra subtrai
o
resto são rugas e ricto
papiro
e
o som de cascos ancestrais
NO ÉDEN
peça
a ela que se desnude
começa
pelos cílios
segue-se
ao arame dos
utensílios
diários
(insônia
alinhavando-se
de
tiros,
a
infância seus disfarces)
é
preciso
que
se arranque toda a face
deixar
que os olhos descansem
lado
a lado com os sapatos
na
camurça oscilante
de
um quarto
isso,
se quer (sequer desconfia)
tocar
o que se fia (um par
de
presas, topázios)
entre
os vãos das costelas
abra
o fecho ela desfecha
no
escuro o quadrante onde vaza
a
luz e suas arestas
a Novalis
Ainda
úmidas sobre a folha,
orvalho
escuro que pousa
na
pele, impiedosa e nua.
Mal
desgarradas da pena,
cada
pequena curva
tatua
as idéias na superfície ácida.
Isso
imagino,
se
te vejo debruçado
sobre
a mesa o penhasco
olho
anoitecido
despencando
no hiato convulso das ventanias.
Isso
enquanto imprimo
os
teus Hinos à Noite
nestas
folhas ordinárias,
palavra
por palavra coagulando
na
brancura infinita, saídas
da
boca da máquina
como
uma carta pela fenda da porta,
duzentos
anos mais tarde e
úmidas,
ainda.
***
Desprego
as estrelas,
deixo
que elas
rolem
céu abaixo
soltas
do seu facho
frio,
iridescente,
ricochete
rente
ao
chão adormecido.
cobres,
estrelas
de pobre, moedas que dobram
na
queda, oco metal.
O
mesmo que falta
às
nossas mais altas
intenções,
e nos deixa
(é
sempre a mesma queixa)
nesse
vai-da-valsa:
com
as mãos repletas
de
palavras certas, de moedas falsas.
***
há uma prata indecisa na copa destas árvores
há um lalique que - diáfano - cola às asas
da borboleta
há um grilo que retine
sílabas
às estrelas
há um lalique que - diáfano - cola às asas
da borboleta
há um grilo que retine
sílabas
às estrelas
***
gualde
amarelo amarelo andante em verde
partitura
oscilante das flores o vento
(ralento
até o silêncio)
mas
ouça: na lousa da noite
os
grilos vão deixando reticências
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