UM
POEMA PARA O DESERTO
com seus rios secos desde o começo
com sua sede sonora
som o sal que não pergunta
do sentido
deste paraíso perfeito
templo que se deita
olho de um sábio egípcio
um oásis
onde o céu
se amplia e revela
uma íris, ou quase,
e a metade da lua
magnifica
uma lágrima minha
fixando
o som misterioso das montanhas
a respiração dessas rochas e pessoas
automóveis deslocando seus vazios
sob o fog azul da luz no sul
o trânsito pesado e veloz
o stress das consoantes
o desdobrar da seda
o cheiro do fumo e de café africano
sensação imprecisa, pedra preciosa
que celebra
a tarde que dura, suprema,
em sua dimensão paralela
o mar invisível que se quebra
manso
aqui
onde não há água.
Não há margens, nem miragens.
Mas cedo ou tarde descobrimos
o que este outono
tem pra nos dizer:
tempo de se desfolhar
— cores, peles, percepções —
tempo de silêncio
flutuando agora no ar
fazendo
bolhas na superfície:
de um céu que é mais além.
Tempe,
Arizona, agosto de 1990
STANZAS
IN MEDITATION
para Henry David Thoreau
Folhas negras caem, rufam em profusão. O vento encrespa a
Água, Tempo, enruga
faces. Um vale revela
canyons, grutas:
em silêncio, exploramos o interior
destas montanhas: uma chuva fina,
estranha,
começa a cair
e súbito dissipa -
o ruído áspero
de uma vespa. Este é o céu, claro, como metal. E aquilo,
começa a cair
e súbito dissipa -
o ruído áspero
de uma vespa. Este é o céu, claro, como metal. E aquilo,
A fumaça abandonada por um trem, talvez.
Flores
Se dissolvem nos olhos, e nos debruçamos sobre velhas lendas
conferindo as pegadas de um animal desconhecido.
A trilha termina num riacho.
A água se surpreende com este vento todo
que vem do Oeste
e que agita a sinfonia das árvores.
Se dissolvem nos olhos, e nos debruçamos sobre velhas lendas
conferindo as pegadas de um animal desconhecido.
A trilha termina num riacho.
A água se surpreende com este vento todo
que vem do Oeste
e que agita a sinfonia das árvores.
Neblina nítida, colinas, um vapor neste
espelho.
Num ponto qualquer da paisagem captamos
seus olhos verdes, mudos, fixos na relva úmida.
Um animal e você contemplam do mirante
este milagre
a baía vazia
- a areia do dia exibindo sua rasante -
rochedos & distâncias, como antes,
animada pelas danças do vento
fazendo desta ausência
presenças manifestas em tudo:
chuva
que desaba
entre os olhos
abertos
da serpente.
Um flash
de luz
entre os bambus
:
o silêncio do sonho
traduzindo
uma imagem-movimento
que se desfaz
entre a verdade dos instantes.
Num ponto qualquer da paisagem captamos
seus olhos verdes, mudos, fixos na relva úmida.
Um animal e você contemplam do mirante
este milagre
a baía vazia
- a areia do dia exibindo sua rasante -
rochedos & distâncias, como antes,
animada pelas danças do vento
fazendo desta ausência
presenças manifestas em tudo:
chuva
que desaba
entre os olhos
abertos
da serpente.
Um flash
de luz
entre os bambus
:
o silêncio do sonho
traduzindo
uma imagem-movimento
que se desfaz
entre a verdade dos instantes.
AGARTHA
No rosto das sombras arrecio, spray,
salito.
Espaço maciço e sem estrelas, presença
no avesso
de si mesma, fulgor de ossos,
unipensamento.
Sefiras ardem em vazios — névoa muezin
dobra-me e
se me-
dita. Nossos gestos sobrepostos escapam
(emblema de instantes).
A praia rege ondas com seus acenos de
ventos,
sua corola ocular:
áspero, acre olor de enquanto.
Rastilho de vagalumes acesos (ao
tocá-los).
O movimento queima.
O arder do corpo impermanece. Dispara
no som que bebe o estampido rouco (eco)
de sua imagem (sem sentido). O corpo,
nomádico,
imprime lucilâncias
no ombro do Céu, asceta.
*
LIOZ
Ninguém lê a página da praia.
Só as areias cujas trilhas velozes
traduzem
(alguma passagem, imagem alguma).
De noite, fósseis celestes.
Suas letras-seixos me frag-
mentam.
Vítreos vocábulos de sal
Dublam as ondas eretas.
*
Riscos igualando quandos, clone de iguanas,
metais coriscos
na rocha mudra que ao sol a pino alucino
num chovisco de cravos,
Céu-sepulcro que cinge o Sul
em nacos que se dobram em contraplano
desenhando desterros nas senhas das
areias.
O cabelo do arrecio avulsa o oculto
flutuam flores de sangue dormidas em seu
sono
de clarões, faces crispadas, plásticos
mudos.
*
VIOLA
No sítio do estio a água (alfombra e
cânhamo)
Excita as diminutas claves da moça
De sombras tecida, torsão de boca, pedra
Pensa num grito de girassóis.
Um instante por um toque
de sua beleza brutal
que cristais no ar o corpo atiça
e bárbara desfixa
palavras, nosso vôo
sem escalas
e o mar, imensa
máscara de escamas
*
ouro laser de artifício & brisa
no crepúsculo hortelã
é ar de renúncia
ou céu que prenuncia
Armageddon
*
Nefertiti, aninha seus zumbis de selfos
nestes escombros de corpos —
Vertical
desaparição.
Mudo, um coro escapa das lajes.
*
Todos os papéis são os mesmos
plenos de gregos segredos
grávidos de seca e nigredo.
Esfumam as praias com renúncia
enquanto nos perseguem, declaram o vento
único senhor dos precipícios. O que
anuncia
o assombro dos riscos, praia de
asteriscos.
O fulgor da pele intacta imanta e se
decalca —
A mil graus, neve de pensamento.
*
ERÓTICA DAS SOMBRAS
Lendo na contraluz que o tempo alucina
Nas rótulas de ondas que em amarelo
artéria barbarizam
Enquanto a boca apressa, sibilina,
entre sons (devorados de sentidos). Içam
o mar vertiginoso e kanjis de nuvens
nos olhos cheios de deus, Sal.
No biombo das montanhas — rugem
No sfumatto mental da fala e do Caos.
Na textura sépia da superfície de sons
Uma face letal lateja e se transmuta
(Estátua de estrondos, trilha de acenos)
Muda e nos sorri. Escuta
os espelhismos cifrados da manhã,
Lábio, na pele da romã.
*
inimigo
espelho da face
ecoa
(inacabado)
cai em rubra cortina
— em
câmera
lenta —
dobras sobre colinas
*
atordoado argumento:
qual paisagem
é real?
A de Jade, pedra de flanco, ou a que é
já?
Vôos reluzem (circulares) – é o azul que
se desfolha
Entre jatos
Minaretes-araucárias imprimem em
símbolos
inventam a fala na pele de Laylak.
A hora furiosa solta-se, inçada
de vegetais e estática.
Sombras vomitam a distância,
Mandala de espantos.
*
No centro, alguma agulha o olho —
Agharta: lágrima no céu laranja.
Plumas de carne escrevem
a tarde celofane.
Ouro ecoa.
Quando voa —
está dormindo.
No agora gótico das sombras
teu lábio (calêndula) modula (calcina)
o matiz da invisível voragem
de ondas gongas:
Tempo, tudo o que a íris invê
no sudário das dunas, na curva de um
silêncio.
Lindos poemas, parabéns!
ResponderExcluirO pé vermei é bão pra danar!
ResponderExcluirO pé vermei é bão pra danar!
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