segunda-feira, 3 de agosto de 2009

EM BUSCA DOS SERES IMAGINÁRIOS & OUTROS LANCES

O poeta Eduardo Jorge cursa o mestrado em Teoria Literária na Universidade Federal de Minas Gerais. Sua dissertação será sobre bestiários (um tema que me fascina desde que li o Livro dos Seres Imaginários, de Jorge Luis Borges). Em artigo escrito a quatro mãos com Maria Elisa Rodrigues Moreira, ele fala sobre a presença do bestiário na obra de poetas brasileiros contemporâneos, entre eles Wilson Bueno, Ronald Polito, Nuno Ramos e eu próprio. Em um trecho do ensaio, ele escreve o seguinte a respeito de meus pequenos animais de estimação poéticos:

"No caso do poeta paulistano Claudio Daniel, partimos de um zoológico em miniatura intitulado Figuras metálicas em expansão, contido no livro Figuras metálicas, de 2005, antologia que reuniu a obra do autor até a data da publicação. Dentre essas figuras que se expandem está aquele mundo animal que normalmente incomoda, que se destina ao extermínio, que o homem costuma desejar invisível: formigas, traças, pulgas, baratas, piolhos. Um bestiário do mínimo, do que há de menos fantástico e mais indesejável no mundo animal.

Esse mínimo bestiário de parasitas que sobrevivem ao homem vive às suas custas: bebe de seu sangue, constitui-se de sua poética. Não é possível ler a expansão dessas figuras metálicas e dessa miuçalha em verbetes sem articulá-las aos verbetes imaginários de Borges e aos vertiginosos fragmentos animais que se infiltram no bestiário do cotidiano de Cortázar, que por sua vez remetem ao simbolismo animal dos bestiários medievais e ao rigor taxonômico da ciência. Essa articulação, entretanto, faz-se pela via da invenção, da subversão e da inversão de valores, de caminhos, de propostas de leitura... Em lugar de finalidades moralizantes e educativas, a pura descrição insólita, a criação de imagens fantásticas, a ironia de uma Formiga ou de uma Traça:
Pequeno dragão/doméstico.//Cabeça grávida/de hibisco.//Rústico abdome-/cogumelo.//Escava o incerto/dos dias,//para a trilha/vertical//de farelo, fúria/e folhas.//Carrega seus mortos/nas costas,//com precisa/ geometria// de fábrica/fúnebre. (DANIEL, 2005, p. 47)

(Entre fólios de ciência antiga e espectros de monjas nuas desencarnadas.)// (Olhos opiados afundam em partituras da Outra Margem.)//(Ruge um leão hipnótico.)//(Letras sangradas na pele de carneiro. Figuras metálicas em expansão.)//(Palavras criam realidades.)//(Traças cavam sendas no papel.)//(Toda leitura é uma cicatriz.). (DANIEL, 2005, p. 49)

(Do ensaio Alguns bestiários na literatura brasileira contemporânea, de Eduardo Jorge de Oliveira e Maria Elisa Rodrigues Moreira.)

Outros lances:

Confiram o ensaio A palavra em espiral de Virna Teixeira, que publiquei no site Cronópios. O texto é uma pequena análise do livro Trânsitos, publicado neste ano pela Lumme Editor, na coleção Caixa Preta (juntamente com Fronteiras da pele, de Ana Maria Ramiro, e Práticas do azul, de Jorge Lúcio de Campos).

E para quem se interessa por poesia brasileira contemporânea, saiu uma pequena mostra organizada por mim e traduzida ao espanhol por Leo Lobos na revista eletrônica mexicana Círculo de Poesia, que pode ser acessada na página http://circulodepoesia.com/nueva/2009/08/todo-comienzo-es-involuntarioocho-poetas-jovenes-brasilenos/

Besos,

CD

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