O poeta Eduardo Jorge cursa o mestrado em Teoria Literária na Universidade Federal de Minas Gerais. Sua dissertação será sobre bestiários (um tema que me fascina desde que li o Livro dos Seres Imaginários, de Jorge Luis Borges). Em artigo escrito a quatro mãos com Maria Elisa Rodrigues Moreira, ele fala sobre a presença do bestiário na obra de poetas brasileiros contemporâneos, entre eles Wilson Bueno, Ronald Polito, Nuno Ramos e eu próprio. Em um trecho do ensaio, ele escreve o seguinte a respeito de meus pequenos animais de estimação poéticos:
"No caso do poeta paulistano Claudio Daniel, partimos de um zoológico em miniatura intitulado Figuras metálicas em expansão, contido no livro Figuras metálicas, de 2005, antologia que reuniu a obra do autor até a data da publicação. Dentre essas figuras que se expandem está aquele mundo animal que normalmente incomoda, que se destina ao extermínio, que o homem costuma desejar invisível: formigas, traças, pulgas, baratas, piolhos. Um bestiário do mínimo, do que há de menos fantástico e mais indesejável no mundo animal.
"No caso do poeta paulistano Claudio Daniel, partimos de um zoológico em miniatura intitulado Figuras metálicas em expansão, contido no livro Figuras metálicas, de 2005, antologia que reuniu a obra do autor até a data da publicação. Dentre essas figuras que se expandem está aquele mundo animal que normalmente incomoda, que se destina ao extermínio, que o homem costuma desejar invisível: formigas, traças, pulgas, baratas, piolhos. Um bestiário do mínimo, do que há de menos fantástico e mais indesejável no mundo animal.
Esse mínimo bestiário de parasitas que sobrevivem ao homem vive às suas custas: bebe de seu sangue, constitui-se de sua poética. Não é possível ler a expansão dessas figuras metálicas e dessa miuçalha em verbetes sem articulá-las aos verbetes imaginários de Borges e aos vertiginosos fragmentos animais que se infiltram no bestiário do cotidiano de Cortázar, que por sua vez remetem ao simbolismo animal dos bestiários medievais e ao rigor taxonômico da ciência. Essa articulação, entretanto, faz-se pela via da invenção, da subversão e da inversão de valores, de caminhos, de propostas de leitura... Em lugar de finalidades moralizantes e educativas, a pura descrição insólita, a criação de imagens fantásticas, a ironia de uma Formiga ou de uma Traça:
Pequeno dragão/doméstico.//Cabeça grávida/de hibisco.//Rústico abdome-/cogumelo.//Escava o incerto/dos dias,//para a trilha/vertical//de farelo, fúria/e folhas.//Carrega seus mortos/nas costas,//com precisa/ geometria// de fábrica/fúnebre. (DANIEL, 2005, p. 47)
(Entre fólios de ciência antiga e espectros de monjas nuas desencarnadas.)// (Olhos opiados afundam em partituras da Outra Margem.)//(Ruge um leão hipnótico.)//(Letras sangradas na pele de carneiro. Figuras metálicas em expansão.)//(Palavras criam realidades.)//(Traças cavam sendas no papel.)//(Toda leitura é uma cicatriz.). (DANIEL, 2005, p. 49)
(Do ensaio Alguns bestiários na literatura brasileira contemporânea, de Eduardo Jorge de Oliveira e Maria Elisa Rodrigues Moreira.)
Outros lances:
Confiram o ensaio A palavra em espiral de Virna Teixeira, que publiquei no site Cronópios. O texto é uma pequena análise do livro Trânsitos, publicado neste ano pela Lumme Editor, na coleção Caixa Preta (juntamente com Fronteiras da pele, de Ana Maria Ramiro, e Práticas do azul, de Jorge Lúcio de Campos).
E para quem se interessa por poesia brasileira contemporânea, saiu uma pequena mostra organizada por mim e traduzida ao espanhol por Leo Lobos na revista eletrônica mexicana Círculo de Poesia, que pode ser acessada na página http://circulodepoesia.com/nueva/2009/08/todo-comienzo-es-involuntarioocho-poetas-jovenes-brasilenos/
Besos,
CD
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