RIZOMA
Você deixou os instrumentos sob o sol rachando o som que penetrava rochas de cores escritas com o tato, você delirava considerando asteriscos num céu de areia hostil.
Os halos seguiram com os corpos, quebras de esquinas com o vazio do tempo nas narinas mornas do nômade, rimas taliban se dublam e enroscam como ramos, e se multiplicam em rajadas acordes que pastam solitária lucidez.
Durou o espaço de uma brecha o dia com pressa de partir e sede no cérebro luz árida exílio areia hostil.
Inóspita. A palavra habita um lugar que lhe é impossível. Não representa nada a não ser um estalo no . Devora as margens com a precisão dos grandes rios, mas vomita seu nada e seu devir, vácuo visível.
A razão negra desabrocha numa agulha. O próprio movimento interroga o espaço que cria atrás de si, sim.
Avança. Mais diz quanto mais se distancia.
Foi então que começaram as desaparições.
* * *
ORGANICISMO
Lótus obtusa, broto do Uno, idéia de duna às 3 da tarde, água ensurdece para que a blusa da brisa respire: nada mais claro, muralhas de açúcar se dissolvem na língua que sua pelo corpo (visto de cima): nenhum corpo nem palavra é sua, seu, epos se repete até que os ecos, sólidos como socos, impeçam seu trajeto de fronteira. Floresta significa estar fora disto, forasteiro, mas nenhuma rocha comenta seu mal-estar, fragmentos de conversas humanas, mal estando. Da semente um anagrama, a forma cava sua cova rasa, frestas tectônicas deslizam. Galhos (afrescos) recolhem tudo no caminho, como se, enquanto vicejam no vácuo destes estames pensamentos.
(Poemas de Rodrigo Garcia Lopes, do livro Nômada. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004.)
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