segunda-feira, 17 de agosto de 2009

ANTOLOGIA ALEATÓRIA (VII)


EXILIARES (fragmento)

Rodeado de lianas de insistência,
viajar acende a manhã. É
ruído o corpo, o corpo é
ruído enquanto cala.

Luzes se desfazem, se perguntam.
A rua em branco é papel e muda.
Olhar impõe uma corrente.
Ninguém acompanha o grilo na úmida

labial que agora apaga e ri. Cheira
a morcegos a casa das borboletas.
Na gruta vários músicos idênticos
afastam um cacho vizinho de risos.

A pirâmide solar está grávida
pelo espelhismo roto da pupila, que sabe
às vezes o reflexo que olvidou a fonte.
Queimam-se perguntas por fragmentos

de cada menino antigo que não voltou.
Porém volta, em outra forma, outra vez,
areiazinha que se dá por um punhado.
Recupero na fragância

de algum modo o outro harmônico
que a sua espessura cinge e ao ossário
traga pela borboleta,
sempre irrepetível pois retorna.

Não é alarde senão pluma na corrente
que desterra, errar até a polpa ou medula.
Recontos rotos concordam,
anéis grises somam o salto de um só

grilo nesta ausência.
Porém, o que se perde ou consuma?
Quando o dia cessa, se ainda estala,
pedraria?

(Poema de Reynaldo Jiménez traduzido por Claudio Daniel no livro Shakti. Bauru: Lumme Editor, 2006.)

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