terça-feira, 11 de agosto de 2009

ANTOLOGIA ALEATÓRIA (I)


TRANSUBSTANCIAÇÃO

A semente amplia o território de sua pupila a toda a carne da pêra.

Uma lâmpada negra é Buda.

Sustenta as constelações momentos antes do fulgor.

Negra raiz do esplendor é Buda.

Se disfarça de moribundo, mocho, lótus, rubi entre os enxames.

Apesar de a Morte não ter remédio (saibam) apesar de.

Esplendor de Buda a fome, a inenarrável configuração da pêra.

Abro a boca a seus pés (calvo) me estendo: noite de constelações, ingiro.

Orfeu guia as manadas à saída dos jardins do Rei, se aproximam, nenhum animal de sua
condição se retrata.

Ordem do fulgor a pereira florida, e ordem do esplendor a boca saciando-se (saciando-se) da
pêra (Buda) indene.

Estendido entre os pés do Amado em Amada transformado escuto (debaixo) a segregação
do escaravelho, escuto o nascimento do mel
no abdome da abelha: aí, a flor; e aí os
aí os onagros sujeitos à sua insaciável condição.

Escuto (eu mesmo flor semovente) fúria do lodo (debaixo) Buda (ou eu) ao seu destino
(flora, semovente) do lodo.


(Poema de José Kozer traduzido por Claudio Daniel. Do livro Íbis amarelo sobre fundo negro. Curitiba: Travessa dos Editores, 2006.)

Um comentário:

  1. Gostaria que o tempo deixasse, ele não deixa.
    Agora aprendi a enganar o tempo e consegui vir até seu blog. Vale a pena enganar o tempo.

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