PATO
Arrasta-se pela poeira
Em que os peixes não riem
Carrega em seus flancos
Inquietude-águas
Desajeitado
Devagar
Arrasta-se
O caniço pensante
Há de alcançá-lo
Mesmo
Nunca
Nunca ousará
Caminhar
Assim como ousou
Arar espelhos
DENTE-DE-LEÃO
Na beira do passeio
No fim do mundo
Olho amarelo da solidão
Cegos pés
Apertam-lhe o pescoço
No abdômen da pedra
Cotovelos subterrâneos
Empurraram suas raízes
Para o húmus do céu
Pata canina ereta
Faz-lhe troça
Com o aguaceiro recozido
Contenta-o apenas
O olhar sem dono do passante
Que em sua coroa
Pernoita
E assim
A ponta de cigarro vai queimando
No lábio inferior da impotência
No fim do mundo
QUARTZO
Para Dúshan Ráditch
Sem cabeças sem membros
Aparece
Com o emocionado pulso das ocasiões
Move-se
Com o passo atrevido dos tempos
Tudo cinge
Em seu terrível
Interno abraço
Tronco liso branco exato
Sorri com a sobrancelha da lua
NO GRITO
A labareda se ergue alto
De dentro do rombo na carne
Sob a terra
Impotente bater de asas
E cego arranhar de patas
Nada sobre a terra
Sob as nuvens
Tênues lâmpadas de brânquia
E inarticulado apelo de algas
Tradução: Aleksander
Jovanovic
(Do livro Osso a osso. São Paulo: Perspectiva, 1989)
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