quarta-feira, 9 de outubro de 2013

GRAFITO PARA HAROLDO DE CAMPOS

Murmúrase algo por allí.
 — Vallejo

Nome:
sim, desabitado.
Montou
no dorso de Garuda
rumo à galáxia-de-nébula.
Desvinculado dos livros,
investe agora em esfinges
de outros círculos obsessivos.
Ele, que conhecia
— como ninguém —
a excêntrica máquina
de vocábulos e sentenças,
agora mudo
(Bashô: a cigarra cantou-se toda).
Ele, o Manco Capac.
Ele, o Colombo de barba rabínica.
Talvez Ganesha,
que escreveu o Mahabharata
com a presa marfínica.
Pousando os pés sobre a mínima banqueta
marroquina, olhou-me,
entre máscaras de teatro chinês
e um volume de Guenádi
Aigui. Olhou-me,
com pupilas de rishi,
desvendando um verso neogrego,
como quem soletra
o sol. (No fundo da sala,
soava outro sol
na tela de Tomie Othake.)
Falávamos de Lezama;
de hinos egípcios, gatos hieráticos
e canções astecas.
Até a hora satúrnica da despedida
(Houve um último telefonema,
do hospital, e uma conversa
sobre Salvador Elizondo).
Agora — murmura-se —
ensina música para as esferas.

2004

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