quarta-feira, 24 de julho de 2013

POEMAS DE LUÍS COSTA


A VIRGEM LOUCA  de Donatien-Alphonse
imperando entre máscaras no labirinto do vento

ao anoitecer   as viúvas do Minotauro
trazem-lhe uma taça repleta de um veneno secreto

e entre as pernas põem-lhe finos seixos   para que
sonhe minotauramente.


SISMOGRAFIA

Um grito oceânico
aves que sobem pelos ventrículos da mulher
turbos plantados na sua orfandade

e as estátuas  altas  com o eixo do mistério
ardendo mansamente

em baixo
o homem procura as agulhas perfeitas
a intimidade da estrutura aberta para lhes ser sangue.


ERGUENDO a mão direita
explicou: falo do silêncio
da sua poderosa turbina

devastando a boca do poeta.

  
SENTOU-SE na posição de lótus e disse:

devoram  a brevidade do infinito
na secura do momento que lhes arde nos lábios

e todos os nomes são uma efémera
conspiração nos andaimes do silêncio.
  
  
ESCREVEU: sou um corpo nu
rasgado ao meio
exposto à luz e ao vento

– um arbusto no deserto.

*

DISSE : talvez a palavra poética
seja uma desertificação

– o lento assassinato do eu.

(Confiram mais poemas de Luís Costa na edição de agosto da Zunái)


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