Vestida de branco, Isolda vinha como uma nuvem. Então a lua começou a cair envolta
Os espectros
saem um a um de cada onda que se levanta. Vocês que estão aí escondidos, chegou
a hora de tremer ante a voracidade da morte.
O sol poente
faz uma auréola sobre a cabeça do último náufrago que flutua à deriva sem ouvir
mais os cantos da margem.
Os lobos
passeiam com os olhos brilhantes entre os ramos da noite, enlaçados
estreitamente e chorando sem causa precisa.
O homem
aquele, maior que os outros, abre a boca no meio do jardim e começa a tragar
vagalumes durante horas inteiras.
As árvores
estão retorcidas por causa de uma dor estranha. E uma quantidade de meteoros
que caem do céu formam espirais em nossa atmosfera como se fossem pedras na
água.
O fumo
espesso sai de todos os lados. Agora só brilham os olhos dos lobos e o homem
cheio de vagalumes. Todo o resto é penumbra.
A montanha
abre suas portas e o cego entra com os braços estendidos.
Há uma
árvore, uma grossa árvore que se retorce no fogo do crepúsculo.
Acima, Deus
está embalando um planeta recém-nascido.
Caem
estrelas sobre a terra. Uma após outra vão caindo centenas de auréolas sobre a
terra, algumas sobre certas cabeças...E nada mais?
Uma ilha de
palmeiras surge do mar para os noivos que passeiam enlaçados.
Algum dia um
deles encontrará a cabeça que havia perdido, imóvel no mesmo lugar em que a
perdera.
Quando?
Onde? Qual deles?
* * *
Todas essas
mulheres são árvores ou pedras de repouso no caminho, talvez desnecessárias.
Garrafas de
água ou tonéis de embriaguês geralmente sem luz própria. Obedecem como as
catedrais a um princípio musical. Cada acorde tem seu correspondente e tudo
consis-te em saber tocar o ponto do eco que há de responder. É fácil fazer
tecidos de sons e construir um verdadeiro teto ou magníficas cúpulas para os
dias de chuva.
Se o destino
permite, podemos abrigar-nos por um tempo e contar os dedos daquela que nos
estende os braços.
Logo o
fantasma nos obrigará a seguir a marcha. Saltaremos por cima dos seios
palpitantes que são suas cú-pulas porque ela estendida de costas imita um
templo. Melhor dizendo, são os templos que imitam a elas, com suas torres como
seios, sua cúpula central como cabeça e sua porta como querendo imitar o sexo
por onde se entra em busca da vida que pulsa no ventre e por onde deve sair
depois a mesma vida.
Porém, nós
não temos de aceitar semelhante imitação nem podemos crer em tal vida. Nesta
vida que sai com os olhos vendados e vai estrelando-se em todas as árvores da
paisagem. Só acreditaremos nas flores que são berços de gigantes, embora
saibamos que dentro de cada casulo dor-me um duende.
Vicente Huidobro
Tradução: Claudio Daniel
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