E NÃO EXPLICA
Che fai tu, in ciel? Dimmi, che fai,
Silenziosa luna?
—
Leopardi
Praias
—
eu
as invento
à
luz da lua alta
luz
borrando zênites
A
paisagem, menos
narcísica
O
vento
as
nuvens
—
leveza —
abrindo
sentidos vitais
Você
nem percebe
râmulos
aquáticos nascem corais
À
noite,
a
lua chama para si
toda
possibilidade de luz
—
depois, deita-se
E
não explica
MESES ÍMPARES DE UM ANO PAR
meses
ímpares
de
um ano par
que
passou
dói
lembrar
daqueles
dias
em
seguida
trinta
e um dias
cravados
no
ímpar
na
overdose dos doze
esses
são
os
meses não
meses
contados
no
osso do soco
de
um ano par
que
passou
COPYRIGHT
BY
sou a flor
tal
e qual
você
não quer nem ler
nos
poemas de blake
baudelaire
sou
a flor do mal
a
flor doente
sou
quem você não quer
nem
vivo nem morto
na
frente
sou
quem você já viu
na
televisão
sub-imagem
estampada
escancarada
isca
de notícia
de
anúncio
isca
de audiência
sou
o cara que você já viu
na
sua câmera de segurança
sou
quem você manda deter
e
detém
os
direitos autorais
o
copyright também
sou
a bala dundun
o
dano o demo a danação
sou
o escuro a escória o escambau
e
estou na sua frente
sou
quem ninguém segura
nem
cães nem grades
nem
os muros grandes do seu quintal
sou
a sua arte
o
seu frankenstein
vim
buscar a minha parte
metade
do que você tem
PESSOA RUIM
Nunca fui campeão de nada
Vim pela rota mais rota
Fui até a última encruzilhada
Topei um pacto com o capeta
Em
troca nunca me faltou caneta
Sou o escriba do poema em linha reta
Tudo que fiz foi levando porrada
Não escrevo o certo por linhas tortas
Escrevo a obra de quem dobra a esquina errada
Escrevo
pra não ser chamado de poeta
Escrevo como quem se ri e espera
A colisão dos planetas
O descarrilo do trem
Escrevo como quem amaldiçoa almas
Amém
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