domingo, 5 de agosto de 2012

POEMAS DE RICARDO CORONA


 
E NÃO EXPLICA
 
Che fai tu, in ciel? Dimmi, che fai,
Silenziosa luna?
— Leopardi

Praias —
eu as invento
à luz da lua alta
luz borrando zênites

A paisagem, menos
narcísica

O vento
as nuvens
— leveza —
abrindo sentidos vitais

Você nem percebe
râmulos aquáticos nascem corais

À noite,
a lua chama para si
toda possibilidade de luz

— depois, deita-se

E não explica

 MESES ÍMPARES DE UM ANO PAR

meses ímpares
de um ano par
que passou

dói lembrar
daqueles dias
em seguida

trinta e um dias
cravados
no ímpar

na overdose dos doze
esses são
os meses não

meses contados
no osso do soco
de um ano par
que passou


COPYRIGHT BY

sou a flor                 
tal e qual
você não quer nem ler
nos poemas de blake
baudelaire
sou a flor do mal
a flor doente
sou quem você não quer
nem vivo nem morto
na frente
sou quem você já viu
na televisão
sub-imagem
estampada escancarada
isca de notícia
de anúncio
isca de audiência
sou o cara que você já viu
na sua câmera de segurança
sou quem você manda deter
e detém
os direitos autorais
o copyright também
sou a bala dundun
o dano o demo a danação
sou o escuro a escória o escambau
e estou na sua frente
sou quem ninguém segura
nem cães nem grades
nem os muros grandes do seu quintal
sou a sua arte
o seu frankenstein
vim buscar a minha parte
metade do que você tem


PESSOA  RUIM

Nunca fui campeão de nada
Vim pela rota mais rota
Fui até a última encruzilhada
Topei um pacto com o capeta
Em troca nunca me faltou caneta
Sou o escriba do poema em linha reta
Tudo que fiz foi levando porrada
Não escrevo o certo por linhas tortas
Escrevo a obra de quem dobra a esquina errada
Escrevo pra não ser chamado de poeta
Escrevo como quem se ri e espera
A colisão dos planetas
O descarrilo do trem
Escrevo como quem amaldiçoa almas
Amém

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