domingo, 12 de agosto de 2012

OS UNIVERSOS CULTURAIS E A PELE DAS PALAVRAS (fragmento)


Boris Schnaiderman

“A coletânea de poemas de Claudio Daniel, publicada recentemente pela Perspectiva, Figuras Metálicas, inicia-se com uma apresentação de nosso inesquecível João Alexandre Barbosa, onde se diz que o leitor é convidado, nesse livro, ‘a se deixar envolver por tudo o que é reverberação de som e imagem, abdicando da discursividade e mergulhando no tumulto das sensações gravadas na pele das palavras’. Com esfeito, este âmago da linguagem, esta pele e este cerne são o que se percebe com intensidade em todo o livro.

Ao mesmo tempo, há nele um diálogo forte com diferentes universos culturais: a realidade poética brasileira (e com que intensidade!), a partir de 1950; a poesia dos nossos vizinhos hispano-americanos; as tradições orientais etc.

Sem dúvida, Claudio Daniel é, essencialmente, um poeta do diálogo entre culturas.

Como que reafirmando esta minha impressão, surge agora a coletânea Íbis amarelo sobre fundo negro, do poeta cubano José Kozer, publicado pela Travessa dos Editores, de Curitiba, com organização, seleção e notas de Claudio Daniel e traduções do mesmo e de Luiz Roberto Guedes e Virna Teixeira, com texto bilíngue.

O livro contém igualmente uma entrevista que Claudio Daniel realizou com ele e que expressa bem o essencial de sua obra. Neste sentido, veja-se o preâmbulo de uma indagação do entrevistador: ‘Ao contrário de outros poetas contemporâneos que privilegiam a síntese, a concisão, os seus poemas são longos, pletóricos, recordando por vezes Góngora. Porém, o seu discurso não é linear, convencional: você cria uma sintaxe própria, em que a elipse e o uso do parêntesis quebram a lógica rotineira. Você faz pequenas colagens verbais, associando ideias conhecidas para criar o desconhecido, o sugestivo, o mutável.’ Como definição da maneira de poetar de Kozer, parece impecável.”

(Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 13/05/2007, pp D10-D11)

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