Boris Schnaiderman
“A coletânea de poemas de Claudio
Daniel, publicada recentemente pela Perspectiva, Figuras Metálicas, inicia-se
com uma apresentação de nosso inesquecível João Alexandre Barbosa, onde se diz
que o leitor é convidado, nesse livro, ‘a se deixar envolver por tudo o que é
reverberação de som e imagem, abdicando da discursividade e mergulhando no
tumulto das sensações gravadas na pele das palavras’. Com esfeito, este âmago
da linguagem, esta pele e este cerne são o que se percebe com intensidade em
todo o livro.
Ao mesmo tempo, há nele um
diálogo forte com diferentes universos culturais: a realidade poética
brasileira (e com que intensidade!), a partir de 1950; a poesia dos nossos vizinhos
hispano-americanos; as tradições orientais etc.
Sem dúvida, Claudio Daniel é,
essencialmente, um poeta do diálogo entre culturas.
Como que reafirmando esta minha
impressão, surge agora a coletânea Íbis amarelo sobre fundo negro, do poeta
cubano José Kozer, publicado pela Travessa dos Editores, de Curitiba, com
organização, seleção e notas de Claudio Daniel e traduções do mesmo e de Luiz
Roberto Guedes e Virna Teixeira, com texto bilíngue.
O livro contém igualmente uma
entrevista que Claudio Daniel realizou com ele e que expressa bem o essencial
de sua obra. Neste sentido, veja-se o preâmbulo de uma indagação do
entrevistador: ‘Ao contrário de outros poetas contemporâneos que privilegiam a
síntese, a concisão, os seus poemas são longos, pletóricos, recordando por
vezes Góngora. Porém, o seu discurso não é linear, convencional: você cria uma
sintaxe própria, em que a elipse e o uso do parêntesis quebram a lógica
rotineira. Você faz pequenas colagens verbais, associando ideias conhecidas
para criar o desconhecido, o sugestivo, o mutável.’ Como definição da maneira
de poetar de Kozer, parece impecável.”
(Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 13/05/2007, pp
D10-D11)
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