CÂNTICO DOS CÂNTICOS PARA FLAUTA E VIOLÃO
Saibam quantos este meu verso
virem
Que te amo
Do amor maior
Que possível for
canção e calendário
Sol de montanha
Sol esquivo de montanha
Felicidade
Teu nome é
Maria Antonieta d' Alkmin
No fundo do poço
No cimo do monte
No poço sem fundo
Na ponte quebrada
No rego da fonte
Na ponta da lança
No monte profundo
Nevada
Entre os crimes contra mim
Maria Antonieta d' Alkmin
Felicidade forjada nas trevas
Entre os crimes contra mim
Sol de montanha
Maria Antonieta d'Alkmin
Não quero mais as moreninhas de Macedo
Não quero mais as namoradas
Do senhor poeta
Alberto d'Oliveira
Quero você
Não quero mais
Crucificadas em meus cabelos
Quero você
Não quero mais
A inglesa Elena
Não quero mais
A irmã da Nena
Não quero mais
A bela Elena
Anabela
Ana Bolena
Quero você
Toma conta do céu
Toma conta da terra
Toma conta do mar
Toma conta de mim
Maria Antonieta d'Alkmin
E se ele vier
Defenderei
E se ela vier
Defenderei
E se eles vierem
Defenderei
E se elas vierem todas
Numa guilanda de flechas
Defenderei
Defenderei
Defenderei
Cais de minha vida
Partida sete vezes
Cais de minha vida quebrada
Nas prisões
Suada nas ruas
Modelada
Na aurora indecisa dos hospitais
Bonançosa bonança.
Sol esquivo de montanha
Felicidade
Teu nome é
Maria Antonieta d' Alkmin
No fundo do poço
No cimo do monte
No poço sem fundo
Na ponte quebrada
No rego da fonte
Na ponta da lança
No monte profundo
Nevada
Entre os crimes contra mim
Maria Antonieta d' Alkmin
Felicidade forjada nas trevas
Entre os crimes contra mim
Sol de montanha
Maria Antonieta d'Alkmin
Não quero mais as moreninhas de Macedo
Não quero mais as namoradas
Do senhor poeta
Alberto d'Oliveira
Quero você
Não quero mais
Crucificadas em meus cabelos
Quero você
Não quero mais
A inglesa Elena
Não quero mais
A irmã da Nena
Não quero mais
A bela Elena
Anabela
Ana Bolena
Quero você
Toma conta do céu
Toma conta da terra
Toma conta do mar
Toma conta de mim
Maria Antonieta d'Alkmin
E se ele vier
Defenderei
E se ela vier
Defenderei
E se eles vierem
Defenderei
E se elas vierem todas
Numa guilanda de flechas
Defenderei
Defenderei
Defenderei
Cais de minha vida
Partida sete vezes
Cais de minha vida quebrada
Nas prisões
Suada nas ruas
Modelada
Na aurora indecisa dos hospitais
Bonançosa bonança.
convite
imemorial
Saíram dos borralhos
incompreendidos
Que tua boca ansiosa
De criança repetia
Sem saber
Teus passos subiam
Das barrocas desesperadas
Do desamor
Trazias nas mãos
Alguns livros de estudante
E os olhos finais de minha mãe
alerta
Lá vem o lança-chamas
Pega a garrafa de gasolina
Atira
Eles querem matar todo amor
Corromper o pólo
Estancar a sede que eu tenho doutro ser
Vem do flanco, de lado
Por cima, por trás
Atira
Atira
Resiste
Defende
De pé
De pé
De pé
O futuro será de toda a humanidade.
Lá vem o lança-chamas
Pega a garrafa de gasolina
Atira
Eles querem matar todo amor
Corromper o pólo
Estancar a sede que eu tenho doutro ser
Vem do flanco, de lado
Por cima, por trás
Atira
Atira
Resiste
Defende
De pé
De pé
De pé
O futuro será de toda a humanidade.
fabulário familiar
Se eu perdesse a vida
No mar
Não podia hoje
T'a ofertar
Os nevoeiros, as forjas, os Baependis
Os nevoeiros, as forjas, os Baependis
acalanto
Acuado pelos moços de forcado
Flibusteiro
Te descobri
Muitas vezes pensei que a
felicidade sentasse à minha mesa
Que me fosse dada no locutório dos
confessionários
Na hipnose das bestas-feras
No salto mortal das rodas-gigantes
Ela vinha intacta, silenciosa
Nas bandas de música
Que te anunciavam para mim
Maria Antonieta d'Alkmin
Quando a luta sangrava
Nas feridas que sangrei
C'o alfinete na cabeça te deixei
Adormecida
No bosque
T'embalei
Agora te acordei
relógio
As coisas são
As coisas vêm
As coisas vão
As coisas
Vão e vêm
Não em vão
As horas
Vão e vêm
Não em vão
compromisso
Comprarei
O pincel
Do Douanier
Pra te pintar
Levo
Pro nosso lar
O piano periquito
E o Reader's Digest
Pra não tremer
Quando morrer
E te deixar
Eu quero nunca te deixar
Quero ficar
Preso ao teu amanhecer
dote
T'ensinarei
o segredo onomatopaico do mundo
Te apresentarei
Thomas Morus
Federico García Lorca
A sombra dos enforcados
O sangue dos fuzilados
Na calçada das cidades
inacessíveis
Te mostrarei meus cartões postais
O velho e a criança dos Jardins
Públicos
O tou-tou de dançarina sobre um
táxi
Escapados ambos da batalha de
Marne
O jacaré andarilho
A amadora de suicídios
A noiva mascarada
A tonta do teatro antigo
A metade da Sulamita
A que o palhaço carregou no
carnaval
Enfim, as dezessete luas mecânicas
Que precederam teu uno arrebol
marcha
Todos virão para teu cortejo
nupcial
A princesa Patoreba
Coroada de foguetes
A Senhora Dona Sancha
Que todos querem ver
O tagolomango
E seus mortos mastigados
Nas laboriosas noites
processionais
Todos comparecerão
O camarada barbudo
O bobo-alegre
O salvado de diversos pavorosos
incêndios
O frade mau
O corretor de cemitérios
E onde estiver
O Pinta-Brava
Meu irmão
Tatá, Dudu, Popó, Sici, Lelé
Não quero sombra de cera
Nem noite branca de reza
Quero o velório pretoriano
De Sócrates
Não o bestiário
De Casanova
Não quero tochas
Não quero vê-las
Tatá, Dudu, Popó, Sici, Lelé
O tio da América
A igreja da Aparecida
O duomo de Milão
O trem, a canoa, o avião
Tudo darei às mesas anatômicas
Do mastigador d'entranhas
himeneu
Para teu corpo
Construirei o dossel
Abrirei a porta submissa
Ligarei o rádio
Amassarei o pão
black-out
Girafas tripulantes
Em paraquedas
A mão do jaburu
Roda a mulher que chora
O leão dá trezentos mil rugidos
Por minuto
O tigre não é mais fera
Nem borboletas
Nem açucenas
A carne apenas
A carne apenas
Das anêmonas
Na espingarda
Do peixe-espada
Transcontinental ictiossauro
Lambe o mar
Voa, revoa
A moça enastra
Enforca, empala
À espera eterna
Do Natal
mea culpa, lear
Na hora do fantasma
Entre corujas
Jocasta soluçou
O palácio de fósforo
Múltiplas janelas
Desmaiou
-Por que calaste o sino
Meu filho, filho meu!
-Dei, dei, dei
-Onde puseste os reinos e as
vitórias
Que minha estranha
serenidade prometia?
-Era usurpação. Paguei
-Passaste fome?
-Muitas vezes comi as marés de meu
cérebro
encerramento e gran-finale
Nada te sucederá
Porque inerme deste o teu afeto
No soco do coração
Te levarei
Nas quatro sacadas fechadas
Do coração
Deixarei de ser o desmemoriado das
idades de ouro
O mago anterior a toda cronologia
O refém de Deus
O poeta vestido de folhagem
De cocos e de crânios
Alba
Alfaia
Rosa dos Alkmin
Dia e noite do meu peito que
farfalha
Ao teu lado
Terei o mapa-múndi
Em minhas mãos infantes
Quero colher
O fruto crédulo das semeaduras
Darei o mundo
A um velho de juba
A seu procurador mongol
E a um amigo meu
Com quem pretenderam
Encarcerar o sol
Viveremos
O corsário e o porto
Eu pra você
Você pra mim
Maria Antonieta d'Alkmin
Para lá da vida imediata
Das tripulações de trincheira
Que hoje comigo
Com meus amigos redivivos
Escutam os assombrados
Brados da vitória
De Stalingrado
São Paulo, dezembro de 1942.
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