quarta-feira, 29 de abril de 2015

LETRA NEGRA (fragmento)



 













XXIX

esta é a maneira de sermos brutais,
com a aspereza
de quem caminha
pelas ruas,
mascando lascas.

não preciso dar explicações
com palavras de madeira,
porque sou impuro
e espontâneo
como a fera.

esta é minha sombra magra, confesso,
estes, os meus passos desordenados.

nenhuma estrela para definir o dramatismo da noite
ao longo da jornada,
nem os ramos
de uma árvore inclinada.

quem considere imprecisa a descrição,
que escreva o seu próprio
rascunho,
com a fúria
violeta
do escaravelho.

sem contar nove vezes
menos um eco,
sigo minha jornada bípede,
de energúmeno.

nada aqui faz sentido para os meus lábios
vociferantes;

e como não venero
deuses de esterco,
nem as clausuras
cíclicas da história,

sigo andando
com minhas omoplatas,
minhas axilas,
meu caralho,

minha testa
desenhada
com símbolos alquímicos,

e um poema
escrito para ninguém
nas linhas torcidas
de meus pulsos.

2009


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