quinta-feira, 30 de abril de 2015

POEMA DE CADERNOS BESTIAIS (volume I)



 

















ANTIMÍDIA X

Quelle est ma langue?

Ionesco

GRUNHE repetindo-se repetindo-se rasura ou réplica de réptil fardos que são palavras farpas de um animal samsárico (repetindo-se repetindo-se) fanhos replicantes repousada em úmeros: caveira neanderthal cor de prata sobre fundo negro (ganchos guinchos repetindo-se) horror social belphagor iniquidade: todo um catálogo de demônios repetindo-se balam belial asmodeus astaroth bicos-de-papagaio encurvados lascas de madeira na boca repicadas repicantes sobre fundo negro letras rúnicas inscritas no crânio antiesfíngicas ruminando cólera astarté ruminando Deutschland über alles, / Über alles in der Weltbarão neoliberal bebe urina com os ratos na hora da gárgula na hora vermelha da gárgula na hora do maçarico quando garotos racistas de São Paulo ateiam fogo na mendiga refugos de rastilhos de rebotalhos neste açougue onde repartem carne humana Tíbias são dejetos olhos são dejetos orelhas são dejetos nesta terra de ninguém que a terra há de comer Caso esfiapasse essa pele caso esfiapasse se não fosse hidra se não fosse ira se não fosse asco se não fossem imponderáveis urros no arame da pobre diaba arpejo de pupila em seu desnudamento de planta em seu desnudamento de carne estirada em ganchos balam belial asmodeus astaroth todo um catálogo de demônios repetindo-se em guaches em guantes Tudo queimaela disse Lucidez nenhuma que os dissuadisse nesta terra de ninguém que a terra há de comer

2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário